sexta-feira, 1 de janeiro de 2010

Os Ministérios na Igreja pós-conciliar

  
1.OS MINISTÉRIOS NA IGREJA PÓS-CONCILIAR

Este tema será dividido nos três pontos seguintes: Igreja pós-conciliar; ministérios; Ministros Extraordinários da Eucaristia.

1. Igreja pós-conciliar
Conquanto a igreja de Jesus Cristo seja, com e como o seu divino fundador e cabeça. “de ontem, de hoje e de sempre” (hebreus 13,8), é possível, porem, estudá-la num determinado período de sua história.
Assim, podemos referir-nos à igreja pós-conciliar, ou seja, à Igreja católica apostólica romana, no período de tempo que vem desde 11 de outubro de 1962, quando o papa João XXIII abriu solenemente o Concílio Ecumênico Vaticano II, até os nossos dias.
São já passados quase 50 anos de vida e de ação pós-conciliar, em que a Igreja, como que em clima de fermentação e crescendo na consciência de sua natureza e de sua missão, procura purificar-se e atualizar-se em ânsia de santificação interna e de difusão externa, para todos os homens a mensagem da salvação em Jesus Cristo, nosso Senhor.
Aproveitando tantos estudos, diretrizes e recomendações emanados do Concílio Ecumênico Vaticano II, o saudoso papa Paulo VI, que concluiu esse concílio em 7 de dezembro de 1965, fez publicar dezesseis documentos fundamentais, nos quais a Igreja de Jesus Cristo expõe o seu pensamento e as suas orientações básicas sobre os seguintes assuntos: apostolado dos leigos; atividade missionária da Igreja; múnus pastoral dos bispos; revelação divina; liberdade religiosa; educação cristã; igreja no mundo; meios de comunicação social; Igreja; religiões não-cristãs; Igrejas orientais; formação sacerdotal; atualização dos religiosos; presbíteros; sagrada liturgia e ecumenismo.
Infelizmente, para muitos católicos, esses dezesseis documentos fundamentais do Concílio Vaticano II permanecem, ainda hoje, como já foi dito, uma espécie de “selva virgem”. Desconhecidos de muitos, apesar de sua imensa riqueza teológica e pastoral.
Em vez de estudar e pôr em prática esses documentos, muitos preferem desgastar-se em improdutivas polêmicas, ousando até rotular a Igreja e seus pastores ora de “conservadores”, ora de ‘‘progressistas”. esquecidos do forte apelo do papa João XXIII ao convocar o Concílio Ecumênico Vaticano II; que a Igreja não seja vista nem como conservado e progressista, mas tão somente como ela precisa ser, isto é, “servidora e pobre”, como seu divino fundador, para melhor servir humildemente a toda a humanidade.
2. Ministérios
A palavra ministério vem do latim ministerium – serviço, minister – ministro; ministrare – servir. O termo ministério, no sentido específico de serviço, aparece muitas vezes na bíblia sagrada e tem um significado teológico muito rico.
Já no Antigo testamento, vemos no Deutero-Isaías (nos cap. 40 a 52, em que se acham inseridas quatro peças 1íricas, ou seja os “quatro cânticos do servo de Javé”) toda uma importante missão de serviço confiada por Deus ao “servo de Javé”. Esse“servo de Javé” é interpretado como uma pré-figura do Messias, de Jesus Cristo, “o Servo de Javé por excelência”.
No Novo Testamento, Jesus Cristo denomina-se o “servo servidor” (em grego, diácono) do Pai. afirmando de si mesmo: “Eu vim para servir, não para ser servido’’ (Mc 10,l5).
Desde a suas origens, a Igreja de Cristo vem servindo, espiritual e materialmente a todos os seus filhos, através do exercício constante e generoso de dois tipos de ministérios, essencialmente distintos: os ministérios ordenados, derivados do sacramento da ordem e exercido pelo clero, bispos, presbíteros e diáconos e os ministérios não-ordenados, derivados dos sacramentos do batismo e da confirmação (crisma), exercidos pelos fiéis leigos; homens e mulheres.
Embora essencialmentedistintos  quanto à sua natureza – ordenados e não ordenados, todos esses ministérios devem generosa e intercomplemetarmente  exercidos  a serviço espiritual e material de todo o povo de Deus e na medida do possível, até mesmo de toda a humanidade, de acordo com a recomendação do príncipe dos apóstolos  São Pedro: “cada qual viva segundo o carisma que recebeu, colocando-o a serviço dos outros, como bons dispensadores das diversas graças de Deus”.
São ministérios ordenados, por exemplo, a celebração do santo sacrifício da missa e a administração dos sacramentos, bem como o múnus de ensinar a doutrina cristã, governar, santificar e presidir o culto público e oficial e de adoração e louvor de Deus.
Entre os ministérios não-ordenados, cuja pastoral está passando por um rejuvenescimento e por um incremento tanto quantitativo quanto qualitativo,  nesta primavera pós-conciliar da Igreja cite entre outros o ministério extraordinário as Sagrada Comunhão, da Palavra de Deus e outros.
3 Ministros extraordinários da eucaristia;
Podemos citar dois documentos básicos da santa Igreja referentes aos ministros extraordinários da eucaristia:
a) A instrução – guarda da fé. publicada pelo papa Paulo VI. em 30 de abril de 1969, pela qual são constituídos os ministros extraordinários da eucaristia.
b) Caridade humana, também do papa Paulo VI, divulgada em 29 de janeiro de 1973 dispondo sobre vários pontos relacionados com a piedade eucarística e com o ministério da sagrada eucaristia.
Também o novo Código de Direito Canônico, no cânon 910, § 2, diz que “o ministro extraordinário da sagrada comunhão é o acólito ou outro fieldesignado de acordo com o cânon 230, § 3”. Esse cânon tem o seguinte teor: “Onde a necessidade da Igreja o aconselhar, podem também os leigos, na falta de ministros, mesmo não sendo feitores ou acólitos, suprir alguns de seus oficios, a saber, exercer o ministério da Palavra, presidir as orações litúrgicas, administrar o batismo e distribuir a sagrada comunhão, de acordo com as prescrições do direito” (cân. 230, § 3).
De acordo, pois, com as determinações da Igreja. podem administrar a sagrada comunhão eucarística: a) os ministros ordinários da Eucaristia, ou seja, os ministros ordenados (bispos, presbíteros e diáconos), pelo seu próprio poder espiritual recebido em sua ordenação sacramental episcopal, presbiteral e diaconal. b) os ministros extraordinários da eucaristia, ou seja, ministros não-ordenados, leigos, homens e mulheres, por específica delegação ou mandato recebido da competente autoridade eclesiástica, na seguinte ordem: acólitos e leitores (ministérios instituídos) seminaristas maiores; religiosos; ministros da liturgia, da palavra e da catequese; ministros do batismo; ministros do matrimônio (testemunhas qualificadas); ministros dos enfermos e outros.
Em particular, quanto aos ministros extraordinários da Eucaristia, convém saber que eles podem exercer seu ministério de três maneiras:
a) permanentemente;
b) por um certo período de tempo;
c) para um determinado ato, cerimônia ou celebraçâo, mediante um convite imediato, para cada vez. Esse ministério extraordinário da Eucaristia pode ser exercido tanto em igrejas públicas, oratórios e capelas semipúblicas quanto em residências e hospitais.
É evidente que a tarefa de distribuir a sagrada comunhão eucarística em igrejas e capelas, durante as celebrações litúrgicas, compete, em primeiro lugar, aos ministros ordenados (bispos, presbíteros e diácouios). É na falta desses ministros, ou, ainda tendo-se em vista o grande número de comungantes, que os ministros extraordinários da eucaristia são chamados a colaborar na distribuição da sagrada comunhão aos fiéis.
Constatada essa necessidade de ajuda, no decorrer da santa missa, o sacerdote celebrante, ou o diácono, depois de terem comungado sob as duas espécies, darão a comunhão eucarística aos ministros extraordinários da Eucaristia, passando-lhes, então as âmbulas com as hóstias consagradas para que eles as distribuam aos fiéis que desejarem comungar.
Já nos hospitais, casas de caridade e residências particulares, ou ainda, em celebrações da palavra com comunhão eucarística - quando não se ache presente nenhum ministro ordenado, então, nessa circunstância, os ministros extraordinários da eucaristia poderão e deverão atuar com toda a piedade e generosidade.

Conclusão prática:
Antes de encerrar este capítulo, cabe aqui um questionamento bem concreto: como deve ser, em sua vida e ministério, um ministro extraordinário da Eucaristia?
1. tenham espírito de fé;
2. levem uma vida cristã exemplar;
3. sejam delicados e humildes no seu ministério;
4. tenham uma sólida piedade eucarística;
5. vivam em alegre comunhão espiritual com seu padre, com seus colegas de ministério e com os fiéis em geral;
6. sejam agentes de união e de renovação cristã, dentro de sua comunidade paroquial.
Essas recomendações – poucas, mas substanciais – poderão ser uma constante e feliz realidade na vida e no ministério dos ministros extraordinário da eucaristia, desde que eles sejam, antes, cuidadosamente preparados e, depois receberem o mandato, zelosamente acompanhados em seu importante ministério.
  
EUCARISTIA: SACRIFÍCIO DE JESUS

Introdução
Na primeira conversa falamos e meditamos sobre o ‘ij lugar e o papel do ministro da Eucaristia na Igreja.Deixei claro que o ministro tem um ministério importante a desempenhar, a gerenciar.
Preciso dizer, agora, que o ministro da Eucaristia deve ser um verdadeiro especialista, um expert em Eucaristia. O ministro precisa ser um especialista em fé, em doutrina, em teologia e em vivência do mistério eucarístico. Espera-se, de verdade, que o ministro seja um especialista.
Para auxiliá-lo no conhecimento da sagrada Eucaristia, faço duas exposições muito especiais, exatamente para tratar do “coração” da Eucaristia, daquilo que é fundamental nela. Estas duas palestras querem ser uma resposta a esta pergunta: “Por que Jesus se decidiu instituir a Eucaristia”? Uma primeira exposição será sobre: “Eucaristia, sacrifício de Jesus, sacrifício da nova e eterna aliança . A segunda será sobre: “Eucaristia, sacramento de comunhão com Jesus, e em Jesus, com Deus e com os irmãos. A Eucaristia sacrifício de Jesus: a presença real do sacrifício de Jesus oferecido na cruz, em cada santa Missa celebrada.

MINISTROS DA EUCARISTIA: FORMAÇÃO MINISTERIAL
Inicio perguntando: “Que é sacrifício”? Ministro, quando você ouve falar em “santo sacrifício da Missa”, ou em “santo sacrifício eucarístico”, o que entende pela palavra “sacrifício”, o que significa para você essa palavra? O que é para você o “sacrifício da santa Missa”?
Primeiro, digo o que o sacrifício da Missa “não é”. Sacrifício da santa Missa não é o esforço de você sair de sua casa para ir à igreja. Não é o esforço de você estar na igreja, ficar de joelhos, ficar em pé, às vezes durante uma celebração longa, em que o padre fala, fala, e não acaba mais de falar. Não é esse o sentido que se dá à palavra “sacrifício”, quando nós nos referimos à santa Missa.
Entremos no sentido da palavra. A palavra “sacrifício” vem de duas palavras latinas: Sacrum e Facere. Sacrum se traduz por “sagrado”, facere por “fazer, tornar”. Portanto, sacrifício significa “fazer com que alguma coisa se torne sagrada”; sacrifício é “tornar alguma coisa sagrada”. Em religião, alguma coisa ou pessoa “se torna sagrada” quando é “dada”, é “ofertada”, é “entregue” ao “sagrado”, que é Deus. Logo, alguma coisa ou pessoa se torna “sacrifício”, torna-se sagrada quando é “dada a Deus”, e por isso se torna propriedade divina, pertença divina. E por pertencer a Deus, que é o sagrado, ela é sagrada.
Sacrifício, portanto, é algo ou alguém que se torna “sagrado” por ter sido oferecido e por passar a pertencer a Deus, por passar a ser propriedade divina, pertença divina.
Os sacrifícios do Antigo TestamentoPara deixar muito claro o que é sacrifício, a fim de entender “o santo sacrifício de Jesus presente na Missa”, passo a apresentar, em breves traços, os sacrifícios do Antigo Testamento. Aliás, é importante falar deles, pois aqueles sacrifícios eram “figura” e “simbolismo”do sacrifício de Jesus. Mais. Porque o sacrifício de Jesus, oferecido na cruz, substituiu todos os sacrifícios da Antiga Aliança.
Ao ler o AT, com certeza você percebeu a presença constante da oferta de sacrifícios a Deus. Principalmente no livro do Levítico você leu e percebeu como Deus pediu a seu povo que lhe oferecesse sacrifícios todos os dias. Podemos afirmar que “todo o culto pedido por Deus a seu povo, e todo o culto prestado pelo povo ao seu Deus, no AT, era baseado na oferta dos mais diversos sacrifícios”.
Deus os havia pedido, e o povo os oferecia. Eram sacrifícios de animais, de aves, de pães, de bolos, de cereais etc. Lembremo-nos e prestemos atenção ao fato de que Deus os havia pedido, e até prescrito. Portanto, Deus os queria e os aceitava agradavelmente.
Um exemplo.
Uma família desejava render um grande agradecimento a Deus por uma bênção recebida. O que fazia? Oferecia um sacrifício chamado “pacífico”. Ela comprava um boi ou um cordeiro, levava-o ao templo, entregava-o aos sacerdotes para oferecê-lo em sacrifício. Os levitas, que eram os encarregados de preparar os sacrifícios, sangravam o boi ou o cordeiro, recolhiam o sangue, tiravam o couro, as vísceras, tudo conforme estava prescrito. Depois levavam as carnes para o altar do templo, acendiam a fogueira e queimavam o animal de acordo com a prescrição, entre salmos, cânticos e orações.É claro que Deus se sentia “gratificado”, “agradecido”, e abençoava a família que o tinha ofertado, pois Ele mesmo havia sugeridoe prescrito tal sacrifício.

SACRIFÍCIOS DIÁRIOS PELO POVO
Dê atenção a estes sacrifícios dos quais vou falar. Eles eram o “símbolo e a figura” do novo e eterno sacrifício de Jesus, presente nas santas Missas que se celebram diariamente, a cada minuto, em toda a Igreja.
Deus havia prescrito ao seu povo que todos os dias lhe oferecesse sacrifícios no templo de Jerusalém. Os sacerdotes e os levitas foram encarregados desse culto diário a Javé, em nome de todo o povo. Todas as manhãs os sacerdotes ofereciam o sacrifício “matutino”. Os sacerdotes e os levitas tomavam um cordeiro, preparavam-no conforme a prescrição divina e o queimavam sobre o altar do templo. Mal acabava a fogueira do sacrifício da manhã, já era hora de oferecer o sacrifício “vespertino”, ou seja, o sacrifício da tarde. Todas as tardes, mais outro cordeiro era preparado e oferecido em sacrifício a Deus.
Qual a finalidade desses sacrifícios? A finalidade era cultuar a Deus em nome de todo o povo. De fato esses sacrifícios eram oferecidos “em nome do povo” e “pelo bem do povo”, a fim de cultuar a Deus todos os dias. Eram oferecidos em nome da nação inteira. Por esses sacrifícios exprimiam a adoração a Deus, o pedido de perdão pelos pecados que o povo cometia, como também o pedido das bênçãos de que o povo precisava.
Aos sábados, dia sagrado do povo de Deus, eram oferecidos dois cordeiros pela manhã e dois à tarde. Nas grandes festas que, aliás, duravam até sete dias, eram oferecidos centenas e centenas, e às vezes até milhares, de animais em sacrifício. A tal ponto que a gordura dos touros e dos carneiros escorria como um pequeno riacho para fora do templo, tantos eram os sacrifícios que o povo oferecia a Deus.
Seria muito interessante que você voltasse a ler os primeiros nove capítulos do Levítico, nos quais se encontra minuciosamente a forma como Deus prescreveu e descreveu toda espécie de sacrifícios que o seu povo lhe devia oferecer.

SACRIFÍCIOS HUMANOS
Para auxiliar ainda mais a sua compreensão sobre o significado dos sacrifícios, falo do sacrifício humano que era oferecido pelos índios astecas. Li, certa vez, que esses índios, no seu culto religioso, também ofereciam sacrifícios aos seus deuses. E o sacrifício mais importante que eles ofereciam, cada ano, era um sacrifício humano. Era o sacrifício de um jovem.
Quando chegava a grande festa do deus principal, todas as tribos da nação se reuniam na cidade-capital. Faziam uma semana de festas religiosas. Quando chegava o dia da festa, reuniam-se na grande praça, onde havia um imponente monumento ao deus principal. Quando chegava o momento principal da festa, na hora do sacrifício, os sacerdotes levavam o jovem diante do altar do deus. Ali, estando o jovem ainda vivo, os sacerdotes abriam-lhe o peito, arrancavam o coração sangrando e o entregavam a deus. Depois queimavam o corpo do jovem diante da estátua do seu deus e diante de todo o povo.
Eles realizavam esse sacrifício porque acreditavam que era o maior ato de culto que podiam oferecer ao seu deus, a fim de receber o perdão de todos os pecados que a nação havia cometido, receber a bênção das melhores colheitas, bem como chuvas abundantes para que tivessem fartura de bens etc.
Para nós, um tal sacrifício parece um absurdo, urna loucura. Mas para a religião e a fé que eles viviam era o “máximo” que poderiam oferecer a deus!
Prezado ministro, eis aí um “sacrifício” que pode iluminar muito o seu entendimento, a fim de você poder compreender o “sacrifício de Jesus” realizado na cruz, o qual se faz realmente presente em cada santa Missa celebrada.
Aproveito para esclarecer que o verbo “sacrificar” passou a ter, em nosso tempo, um sentido muito frequente de “matar, tirar a vida”. Exatamente porque em quase todos os sacrifícios de todas as religiões ocorre a “morte” daquele que é oferecido, seja animal, ave ou pessoa. Fala-se hoje em “sacrificar”, em matar um cavalo de corrida que caiu e fraturou gravemente uma perna. Fala-se em “sacrificar”, em matar cães ou gatos que estão afetados por alguma peste etc.

NECESSIDADE DO SACRIFÍCIO DE JESUS PARA A SALVAÇÃO
Caro ministro. Falei todas essas coisas sobre sacrifício, a fim de que você possa compreender exatamente o que é o sacrifício de Jesus. Mais. Possa compreender que, em cada santa Missa, há uma “presença real” do sacrifício de Jesus, oferecido na cruz. Vamos passai; portanto, da compreensão dos sacrifícios de animais e dos sacrifícios humanos, para o sacrifício de Jesus.
Preste toda atenção a esta verdade. O projeto para a salvação da humanidade, planejado pelo Pai celeste, exigia o sacrifício de Jesus. Exigia a paixão e morte de Jesus Cristo. Era o “preço” exigido pelo Pai para salvar a humanidade.
Jesus devia oferecer-se “como sacrifício”. Jesus devia oferecer ao Pai a sua vida, na cruz, em sacrifício, pela redenção da humanidade. Jesus precisava “dar” a sua vida. Precisava “entregar” a sua vida. Devia sacrificar-se, aceitar morrer na cruz, dar a sua vida como sacrifício, como preço da grande reconciliação da humanidade com Deus, bem como para a salvação dessa mesma humanidade.

O SACRIFÍCIO DA NOVA ALIANÇA
Jesus, com seu sacrifício oferecido na cruz, fez uma “Nova Aliança” entre Deus e a humanidade. A primeira aliança, a antiga aliança, feita no AT entre o povo de Israel e Deus, agora é “substituída” por urna “nova e eterna Aliança”. A 1ª Aliança, celebrada entre Deus e o povo, foi assinada com o sangue dos sacrifícios de animais, sangue aspergido por Moisés sobre o povo. A 2ª aliança, a nova e eterna Aliança, feita com Deus por meio de Jesus, é assinada com o sangue precioso de Jesus. E assinada com o sangue do sacrifício de Jesus, derramado na cruz. Aliás, é por isso que na santa Ceia Jesus declarou: “Este é o Sangue da nova e eterna Aliança”. E em cada santa Missa, emprestando sua voz a Jesus, o celebrante afirma: “Este é o Sangue da nova e eterna Aliança”. E em cada vez que a Igreja celebra uma santa Missa está reafirmando diante de Deus a decisão de “manter de pé”, de “observar”, de “cumprir” a Nova Aliança. Exatamente porque na santa Missa se torna presente o sacrifício da cruz, torna-se presente o sangue de Jesus, sangue da assinatura da aliança com Deus.

UM SACRIFÍCIO PARA A NOSSA SALVAÇÃO
A nossa salvação dependia da morte de Jesus. E Jesus aceitou o plano de seu Pai. Jesus veio, se encarnou no seio da Virgem, a fim de tornar um corpo humano, para depois poder sacrificá-lo na cruz. Parece incrível, mas podemos afirmar que a única pessoa que nasceu “para morrer” foi Jesus. Ele nasceu “para morrer” na cruz. Ele assumiu um corpo, “para poder entregá-lo em sacrifício” na cruz. Se não fosse para entregar seu corpo na cruz, ele não teria se encarnado. Ele se encarnou, assumiu um corpo, porque este era o plano do seu Pai: que ele se oferecesse em sacrifício na cruz, para a salvação da humanidade.
Jesus, o mais belo dos filhos dos homens, como diz o profeta Isaías, no auge da sua vida terrena, entregou-se em sacrifício ao Pai. Aos 33 anos, na plenitude da sua idade, no vigor da juventude, no auge do seu sucesso, Jesus entregou-se aos desígnios do Pai. Entregou-se à dor, ao sofrimento, à condenação e à morte. Entregou-se, sim, certo, certíssimo de que haveria de ressuscitar. Entregou-se à morte, certo, certíssimo de que seu corpo seria ressuscitado, glorificado por seu Pai!
Jesus entregou-se à morte, carregando os nossos pecados, a fim de “crucificá-los e fazê-los morrer”, para que ficássemos livres deles. Aliás, São Paulo nos diz: “Nós estamos crucificados com Cristo.
O que ele quis dizer? Quis ensinar que Jesus carregou em suas costas os nossos pecados, a fim de crucificá-los, a fim de que não existam mais para nós”, a fim de que não os pratiquemos mais e vivamos urna vida nova.
Com certeza, Jesus ofereceu o seu sacrifício ao Pai e morreu na cruz, muito consciente do que estava fazendo. Ele sabia que era o sacrifício que o Pai lhe havia pedido para salvar a humanidade.

O SACRIFÍCIO DE JESUS, PRESENTE EM CADA SANTA MISSA
Passemos ao terceiro momento de nossa conversa. Vamos recordar o que já meditamos: primeiro falamos sobre “o que é sacrifício”, sobre os sacrifícios do Antigo Testamento e sobre o sacrifício dos astecas. Depois falamos sobre o sacrifício de Jesus, condição exigida pelo Pai para a salvação da humanidade.
Jesus já não podia aceitar e nem podia conceber que o seu “novo povo”, remido com sua morte na cruz, tivesse de continuar a oferecer ao Pai celeste sacrifícios de carneiros, de cordeiros, de pombas, de cereais, de bodes ou de touros. Jesus queria dar ao seu povo um sacrifício infinitamente mais perfeito e santo, infinitamente mais agradável ao Pai do que todos os sacrifícios antigos de animais e aves. Por isso Jesus decidiu nos deixar o seu sacrifício, único e verdadeiro, perfeito e santo, oferecido na cruz.
Jesus eliminou todos os sacrifícios antigos e criou um novo sacrifício. Infinitamente mais santo, mais sublime, mais perfeito. Jesus criou, instituiu e deu ao seu novo povo o “seu próprio sacrifício oferecido na cruz”. Que maravilha! Que graça divina! Que presente ele nos deu!

JESUS INSTITUIU A EUCARISTIA: PRESENÇA DO SEU SACRIFÍCIO.
Com urna vontade imensa de deixar àqueles que Ele resgatou com seu sangue uma forma extraordinária de glorificar ao Pai, Jesus “criou urna forma”, “achou um modo”, “descobriu urna maneira genial” de fazer com que o seu sacrifício oferecido na cruz se tornasse sempre presente, ao alcance do seu povo, em todos os tempos. Jesus encontrou um modo maravilhoso de tornar presente o seu sacrifício, a fim de que todos os que nele crêem tenham um sacrifício perfeitíssimo e santíssimo para oferecer ao Pai, sempre que quiserem. Mais. Para que com essa oferta possam glorificá-lo da maneira mais perfeita e mais completa, bem como para que possam atrair toda sorte de bênçãos de salvação e de santidade sobre aqueles por quem oferecem o sacrifício de Jesus. “Jesus encontra urna forma, cria um ritual, institui urna celebração, cria uma ação humana e divina que torna presente o seu sacrifício, cada vez que esse ritual e celebrado.
Essa celebração criada por Jesus é a santa Missa. Jesus institui essa celebração exatamente corno a forma de tornar presente o seu sacrifício oferecido na cruz. Em cada santa Missa tornam-se presentes o Corpo e o Sangue de Jesus. O mesmo corpo crucificado e o mesmo sangue derramado. Portanto, o mesmo sacrifício de Jesus, oferecido ao Pai na cruz. No ritual sagrado da santa Missa, no momento da Consagração, torna-se presente o Cordeiro divino imolado na cruz.
Atenção. Graças ao amor de Jesus, não precisamos mais oferecer o cordeiro animal. Não, porque agora nós ternos o Cordeiro divino. Em cada santa Missa se faz presente o Cordeiro divino para que seja oferecido como “nosso sacrifício” ao Pai.
Em cada santa Missa se torna presente aquilo que aconteceu no Calvário. Torna-se presente Jesus mesmo, oferecendo-se novamente ao Pai, como na cruz.

Indico apenas algumas passagens.
ü  Oração Eucarística I— Antes da Consagração: “Lembrai-vos, ó Pai, dos vossos filhos... Eles vos oferecem conosco ‘este sacrifício de louvor.. .“ Após a Consagração: “Celebrando, pois, a memória do vosso Filho... vos oferecemos.,. ‘o sacrifício perfeito e santo...”

ü  Oração Eucarística III Antes da consagração: “Na verdade, vós sois santo, ó Deus do universo.., não cessais de reunir o vosso povo, para que vos ofereça... ‘um sacrifício perfeito”. Após a Consagração: Celebrando, agora, o Pai... vos oferecemos este sacrifício de vida e santidade.

ü  Oração Eucarística IV — “Celebrando, agora, ó Pai,... nós vos oferecemos o seu Corpo e Sangue, ‘sacrifício’ do vosso agrado...” Logo após: “Olhai com bondade o ‘sacrifício’ que destes à vossa Igreja...” Em seguida: “Lembrai-vos, ó Pai, pelos quais vos oferecemos ‘este sacrifício’, vosso servo o Papa... e os fiéis que em torno deste altar vos oferecem este ‘sacrifício’...”

Poderíamos percorrer todas as onze Orações Eucarísticas, e em todas nós encontramos as palavras que “realizam a oferta do sacrifício de Jesus ao Pai.
A santa Missa existe em função disto: tornar presente o sacrifício de Jesus para oferecê-lo ao Pai, e para que os participantes, pela Comunhão, recebam sempre mais a redenção celebrada nesse sacrifício.
Jesus não morre mais. Procure compreender que o sacrifício de Jesus, presente na santa Missa, não é uma repetição da morte de Jesus. Jesus não morre mais em cada santa Missa. Não morre outra vez. Ele morreu, ressuscitou e vive para sempre. O que acontece é que Jesus encontrou uma forma de “tornar sempre de novo presente” aquilo que fez na cruz.
É preciso saber também que a santa Missa não é apenas “urna saudosa recordação” de um fato passado, que está retida no passado e que é apenas recordada. De fato, por vontade de Jesus, na celebração da santa Missa torna-se misteriosamente presente aquilo que aconteceu no alto do calvário. O mesmo sacrifício, O mesmo Corpo e Sangue. O mesmo Jesus, cordeiro imolado e oferecido.
Poderíamos dizer que “na hora da consagração, o calvário se transporta para o altar da santa Missa. E Jesus oferece o seu sacrifício ao Pai, novamente, aqui e agora. Mais. Ele se torna presente como Cordeiro imolado para que nós, agora, possamos oferecê-lo ao Pai, como nossa vítima, como nosso Cordeiro Pascal.
Na santa Missa, portanto, o sacrifício de Jesus oferecido uma única vez na cruz se torna realmente presente sobre o altar. Não como uma repetição. Não como uma mera recordação. Mas em toda sua realidade; um mistério. É por isso que, em todas as santas Missas, após a Consagração, o sacerdote anuncia: “Eis o mistério da fé!” E, de fato, um grande e maravilhoso mistério. Por mais que queiramos explicá-lo ou compreendê-lo, sempre permanece algo inexplicável e incompreendido.


NA MISSA, JESUS SE OFERECE AO PAI COMO NA CRUZ
Após a Consagração, Jesus se entrega novamente ao Pai, como o fez na cruz. Com o mesmo amor, Com o mesmo desejo de glorificar ao Pai e continuar a salvar a humanidade.
As orações feitas após a Consagração são fundamentais ria santa Missa. Fundamentais, pois por meio delas Jesus oferece novamente ao Pai o seu sacrifício. Fundamentais, também, porque “por meio de Jesus,junto com Jesus, e em Jesus , nos o oferecemos ao Pai, corno nossa grande oferta. Mais, porque junto com o sacrifício de Jesus nós também “nos oferecemos” ao Pai, como hóstias vivas, santas e agradáveis.
Quero chamar sua atenção para urna realidade muito significativa. A consagração cio pão e do vinho na santa Missa não é feita, em primeiro lugar, para trazer a presença de Jesus eucarístico, a fim de que se possa comungai Não. A Consagração da santa Missa existe, exatamente, para “[ornar presente o sacrifício de Jesus Cristo”, oferecido na cruz, a fim de que, agora, nós possamos oferecê-lo ao Pai.
Caro ministro, que fique gravado para sempre em seu coração esta verdade: a Consagração não é realizada, em primeiro lugar, para consagrar o pão e o vinho a fim de que se possa comungar. A consagração é realizada com a primeiríssima finalidade de tornar presente o sacrifício de Jesus, realizado no Calvário, para que possamos oferecê-lo ao Pai celeste. A santa Comunhão com Jesus é uma decorrência da presença de Jesus na Eucaristia. Lembre-se que é agora, em vida, que precisamos oferecer ao Pai um sacrifício santíssimo e perfeitíssimo. Não esqueça que é agora que nós precisamos ser cada dia mais salvos e santificados.

NÓS IGREJA — OFERECEMOS JESUS AO PAI
Para tentar explicar esta realidade, a presença real do sacrifício de Jesus após a Consagração e a oferta que dele devemos fazer ao Pai, eu diria: “Imagine que, na hora em que o sacerdote pronuncia as palavras da Consagração, de repente desaparecessem o cálice e a patena, e aparecesse o próprio Jesus Crucificado, deitado sobre o altar. Imagine Jesus pregado na cruz, apenas morto, com seu corpo ainda quente. Imagine ainda que o sacerdote imediatamente convidasse a todos os fiéis presentes à Missa para que corressem ao redor do altar a fim de que todos o ajudassem a levantar para o alto a cruz com o Corpo de Jesus, apenas morto, para oferecê-lo ao Pai. E todos juntos, padre e fiéis, clamassem ao Pai dizendo: “Pai, é isto que nós damos a você! Oferecemos-lhe seu Filho sacrificado até a morte de cruz! Entregamos-lhe seu próprio Filho que se fez o nosso Cordeiro! Com esta oferta queremos glorificá-lo, ó Pai, com a maior glória que poderíamos lhe dar! Aceite, ó Pai, a nossa oferta! E, por causa dessa oferta, salve- nos! Santifique-nos! E encha-nos do seu Espírito Santo! Faça de nós um só corpo e urna só alma, em seu amor!”
Caro ministro, essa imaginação que fizemos retrata exatamente a realidade que deve ser vivida após a Consagração. E exatamente o que acontece, e deveria ser realizado em cada santa Missa.
Se você prestar atenção em todas as orações rezadas após a Consagração, ou até as estudar, perceberá que todas elas falam cio sacrifício de Jesus e realizam a sua entrega ao Pai. E por causa dos méritos dessa entrega pede-se, depois, pela Igreja, pelos vivos e falecidos, bem como por todas as necessidades da Igreja.
E bem interessante notar que o profeta Zacarias profetizou que seriam oferecidos sacrifícios a Deus, do nascer ao pôr-do-sol. Essa profecia realiza-se de verdade. Basta lembrar que a cada dia estão sendo celebradas 450 a 500 mil missas no inundo inteiro. A cada minuto, nas 24 horas do dia, em algum lugar do mundo está sendo oferecido o sacrifício de Jesus ao Pai, como culto mais perfeito e santo. Que maravilha!
Eu penso, caro ministro, que é por causa da oferta do sacrifício de Jesus, oferecido a cada minuto, em cada santa Missa celebrada, que nós podemos crer que a misericórdia de Deus Pai vai levar muito em consideração a fraqueza, a miséria e a ignorância humanas, a fim de salvar o maior número de pecadores.

O VALOR DO SACRIFÍCIO DE JESUS
Preciso falar, ainda, sobre o valor espiritual do sacrifício de Jesus, oferecido em cada santa Missa. Ou, em outras palavras, o valor de cada santa Missa celebrada.
Não é difícil compreender o valor infinito de cada santa Missa, já que nela se torna realmente presente o sacrifício de Jesus. Ora, Jesus é Deus e homem. O dom total de sua vida na cruz foi o dom de uma vida humana. Mas quem fez o dom foi o Filho de Deus. Portanto, esse dom tem um valor divino, infinito, e supera em qualidade e santidade, em valor e méritos a todo e qualquer outro dom que se pudesse fazer.
PRIMEIRO: A santa Missa é o maior ato de culto de nossa fé. Exatamente, porque nela se torna presente e é oferecido o sacrifício de Jesus ao Pai. E preciso dizê-lo: nunca houve, e jamais haverá outro ato de amor maior, outra oferta maior, outro dom maior do aquele que Jesus realizou, entregando-se até a morte na cruz. O que alguém pode oferecer de mais valioso ou importante do que sua própria vida?... Qualquer outro sacrifício, ou oração, ou romaria, ou devoção, ou penitência, ou doação de bens materiais jamais pode ser comparado em grandeza, em importância e em santidade ao dom que Jesus realizou na cruz: o dom total de sua vida.
Como ministro da Eucaristia, saiba que você poderia ficar 24 horas, com duas mil pessoas, na sua igreja, de joelhos, todos em jejum, rezando o terço sem parar, rezando e cantando toda espécie de oração e canto, mas todo esse esforço, essa devoção e penitência, estes terços todos seriam nada, nada mesmo, em comparação com o valor cio sacrifício de Jesus, oferecido em uma única santa Missa. Exatamente porque o sacrifício de Jesus Cristo, oferecido ao Pai em cada santa Missa, tem valor infinito.
A santa Missa tem valor infinito exatamente porque Jesus é Deus. Portanto, a oferta de sua vida na cruz é a oferta de um Deus. Sendo oferta de um Deus, só pode ter um valor infinito. E por isso, aliás, que a santa Missa é o maior ato de culto. E por isso que ela é o maior gesto religioso que podemos fazer a Deus, para a sua grande glorificação e para a nossa redenção. E por isso que ela é a maior prova de culto religioso que se possa oferecer a Deus. Aliás, torna-se tão evidente que não há comparação entre o valor do sacrifício de Jesus e os sacrifícios de animais, ou mesmo de sacrifícios humanos.
É por isso que mais de dois mil bispos declararam, no Vaticano II, que “a Eucaristia é o ponto mais alto da vida da Igreja e a fonte de todas as graças”. É o “ponto mais alto” e a “fonte de todas as graças”, exatamente porque nela está o dom total que Jesus fez de si mesmo, no sacrifício da cruz, oferecido ao Pai pela nossa salvação.
SEGUNDO: A santa Missa é o maior ato de adoração a Deus. Sim, é o maior ato de adoração que se possa dar ao Pai, porque é exatamente na santa Missa que se torna presente e é oferecido o sacrifício de Jesus. Mesmo que fiquemos horas e dias diante do Pai em adoração, com orações, cantos, salmos e leituras bíblicas, tudo isso é nada em comparação com a oferta de uma única santa Missa.
TERCEIRO: A santa Missa é o maior ato de ação de graças que podemos fazer a Deus. Aliás, a palavra “Eucaristia” significa “ação de graças”. Cada santa Missa é uma ação de graças pela nossa salvação realizada pelo Pai celeste, por meio do sacrifício de Jesus, oferecido na cruz. Se você quer render infinitas ações de graças, se quer agradecer a Deus por graças e benefícios recebidos, ofereça urna santa Missa ao Pai. Exatamente porque nela você apresenta o sacrifício que Jesus ofereceu na cruz.
QUARTO: A santa Missa é o maior argumento para pedir graças e bênçãos divinas. E o melhor meio de interceder. E o maior argumento que você pode usar, diante de Deus Pai, para conseguir todas as graças. E o maior argumento, o mais forte, o mais poderoso, que mais toca o coração de Deus, exatamente porque ao oferecer a santa Missa você entrega ao Pai o sacrifício do seu Filho.
Você poderia ficar horas e dias de joelhos, intercedendo, suplicando, pedindo alguma graça. Mas essa intercessão é nada em comparação com a oferta do sacrifício de Jesus, presente em cada santa Missa.
QUINTO: A santa Missa é o melhor modo de alcançar a reconciliação com Deus. Exatamente porque nela você apresenta ao Pai o sacrifício de Jesus oferecido na cruz. Aliás, o dom da vida de Jesus, oferecido em sacrifício na cruz, foi feito exatamente para realizar a grande reconciliação entre Deus e o ser humano.
A santa Confissão, de fato, é o sacramento que concede o perdão ao pecador arrependido. Mas lembre-se que o perdão que alguém recebe na Confissão é alcançado pela morte de Jesus na cruz. O perdão vem dos méritos do sangue de Jesus, derramado no seu sacrifício. Diz São Paulo: “Fornos resgatados dos nossos pecados, não com ouro ou prata, mas com o sangue precioso de Jesus”. Portanto, porque na santa Missa nós oferecemos o Sangue de Jesus, podemos, por meio dele, realizar a nossa reconciliação com Deus.
SEXTO: A santa Missa é o melhor sufrágio para as santas almas do purgatório. Se você quiser socorrer aquelas pessoas que faleceram e que talvez estejam no purgatório, para que sejam perdoadas e possam passar depressa para a felicidade do céu, a melhor forma é oferecer santas Missas. Urna única santa Missa vale mais do que toneladas de velas, do que novenas, peregrinações, terços ou outras orações. Você sabe por quê? Porque na santa Missa se oferece o sacrifício redentor de Jesus Cristo, se oferece todo o sangue de Jesus em sufrágio das pessoas que estão no purgatório.
Tenho certeza de que você concorda comigo que as pessoas que fazem a oferta da santa Missa deveriam estar conscientes do que fazem. Aliás, elas mesmas deveriam procurar participar vivamente da celebração da santa Missa. Infelizmente, ocorre que certos católicos mandam celebrar santas Missas, mas eles delas não participam. “Pagam para o padre rezar” a santa Missa, mas eles mesmos estão ausentes, ou estão muito desligados da celebração. Deveria sei’ muito diferente. Enquanto o padre está celebrando e oferecendo o santo sacrifício de Jesus ao Pai, a pessoa deveria estar ali, participando com profunda fé, colocando as mãos do seu coração debaixo do Corpo e do Sangue de Jesus, para ajudar o sacerdote a oferecer o sacrifício de Jesus ao Pai, a fim de alcançar a bênção desejada.

PARTICIPAR DE TODAS AS SANTAS MISSAS
Gostaria de lhe falar, ainda, de uma grande fonte de graças e bênçãos, da qual você pode participar cada dia, se quiser. Quero dizer-lhe que você pode participar vivamente de todas as santas Missas que se celebram, cada dia, no mundo.
Lembre-se que o sacrifício de Jesus, oferecido ao Pai em cada santa Missa, é sempre oferecido em nome de toda a Igreja, em nome de todos os batizados, em nome de todo o povo de Deus. E, por isso, toda a vida vivida pelo povo de Deus se torna presente em cada Missa, para ser entregue ao Pai, com Jesus, por meio de Jesus e em Jesus. O povo de Deus, a Igreja-povo é o Corpo de Cristo. Portanto, é parte, também, do sacrifício de Jesus oferecido ao Pai. Aliás, esta é a novidade que Jesus oferece ao Pai, em cada santa Missa: a vida vivida por todos os batizados, cada dia. Ou seja, a vida vivida por seu Corpo Místico. Penso que você compreendeu.
Exatamente porque você faz parte do Corpo místico, porque é o “braço direito” do Corpo de Cristo, você pode participar consciente- mente de todas as santas Missas, de todas as ofertas do sacrifício de Jesus feitas a cada minuto, no mundo, e, por isso mesmo, pode participar de todos os méritos da morte e ressurreição de Jesus.
Como é que você pode participar de todas as santas Missas? Fazendo uma intenção diária. Colocando sobre o altar, em cada santa Missa, em união com o sacrifício de Jesus, todo o seu viver, tudo aquilo que já viveu e fez, ou ainda vai viver e fazer naquele dia. Não é uma maravilha?
Basta que você entre na presença de Deus Pai, todos os dias pela manhã, e lhe diga que você quer unir o seu coração, a sua vida vivida naquele dia, bem como a vida de todas as pessoas de sua família, ao grande sacrifício de Jesus oferecido em cada santa Missa celebrada naquele dia. Missas celebradas pelo Papa, pelos bispos e pelos sacerdotes do mundo inteiro. Ao declarar essa intenção, ao realizar esse ato consciente, estará participando realmente de todas as santas Missas celebradas naquele dia, no mundo inteiro.
Eu gosto de pensar que, cada dia, Jesus tem muitas novidades para apresentar a Deus Pai, quando lhe oferece o seu sacrifício em cada santa Missa. Quais são as novidades? Tudo aquilo que o seu povo, a sua Igreja vive e realiza naquele dia. Imagine todo bem realizado, cada dia, no mundo inteiro, por todos aqueles que crêem em Jesus: pelo Papa, por todos os bispos, padres, religiosos e religiosas, bem como por todos os católicos, por todos os cristãos não católicos e por todas as pessoas de boa vontade de qualquer religião. Imagine quanto bem! Ora, todo esse bem vivido e realizado nas 24 horas de cada dia é a grande novidade que Jesus tem para apresentar a seu Pai, toda vez que ele mesmo se oferece em sacrifício, em cada santa Missa. Que maravilha!

Conclusão
Como ministro da Eucaristia, é preciso que você conheça essas maravilhosas riquezas da presença do sacrifício de Jesus em cada santa Missa celebrada, bem como a possibilidade de oferecer-se a si mesmo em todas, a fim de participar de seus méritos e graças.
Se você se apropriar dessa riqueza da Eucaristia e viver profundamente essas realidades, você também irá transbordá-las no seu ministério.
Como ministro da Eucaristia, você vai querer que as pessoas da sua paróquia conheçam essas maravilhas. Você vai querer vivamente que as pessoas, a quem você serve com seu ministério, conheçam toda a riqueza da santa Missa e da Comunhão. E você vai ficar com vontade de aproveitar todas as oportunidades para ensinar e explicar às pessoas essas maravilhas do sacrifício da Nova Aliança, presente em cada santa Missa, bem como a ensiná-las a participar de todas as santas Missas que se celebram, cada dia, na Igreja de Jesus ressuscitado.

SUGESTÕES PARA APROFUNDAMENTO:
Aprofundar estas perguntas e realizar as tarefas sugeridas.
1. Aprofunde em seu coração a realidade dos sacrifícios. Responda: O que é um sacrifício? Um sacrifício de animais? Um sacrifício humano? O sacrifício de Jesus?
2. Qual foi a intenção fundamental de Jesus ao instituir a Eucaristia? Se for preciso, busque a resposta nas palavras da Consagração da santa Missa.
3. Você percebeu a riqueza de poder participar de todas as ofertas do sacrifício de Jesus, oferecido em cada santa Missa, todos os dias? Que palavras você usaria para ensinar alguém a realizar essa participação?
4. Releia e aprofunde estes textos bíblicos que falam de sacrifícios: Gn 4,1-8; 8,20-22; 14,18-20; 22,1-14.
5. Ler em casa, um pouco por dia: Lv 1-9.









COMUNHÃO EUCARÍSTICA COM JESUS

Introdução
Prezado ministro da Eucaristia. É com alegria que venho partilhar com você outra verdade maravilhosa referente à sagrada Eucaristia. Na conversa anterior falamos sobre “Eucaristia, Sacrifício da Nova Aliança”. Apresentei a você a santa Missa como sendo o “Sacrifício da Nova Aliança” para ser oferecido sempre de novo a Deus Pai, como o maior ato de culto, a fim de adorá-lo, agradecê-lo, glorificá-lo, dai-lhe a maior reparação pelos pecados de todos os seres humanos, bem como para atrair a salvação sobre a humanidade e sobre cada um de nós.
Falo, agora, sobre “Eucaristia, Sacramento de Comunhão com Jesus, e em Jesus, de comunhão com os irmãos”.
Na verdade, o Sacramento da Eucaristia é um todo:Sacrifício e Sacramento. Não são duas partes separadas, independentes. Eucaristia-Sacrifício é para o culto divino. Por ele, o ser humano faz um gesto máximo de culto a Deus. Na Eucaristia-Sacramento, Deus se dá ao ser humano. Na Comunhão, Deus oferece uma chance para que o ser humano possa recebê-lo e possa entrar em comunicação profunda com ele.

COMUNHÃO E SALVAÇÃO
Para compreender em profundidade o significado e a razão de ser da Comunhão eucarística precisamos compreender a realidade da necessidade da salvação. De fato, o Sacrifício de Jesus na Cruz, o dom de sua vicia, a sua entrega até a morte na cruz aconteceu, foi oferecida ao Pai para nossa salvação, para o nosso resgate, para a nossa redenção. Perceba que, se a humanidade não tivesse caído no pecado, nós nunca teríamos tido Jesus conosco. O Verbo nunca teria se encarnado. Não teríamos a morte e a ressurreição de Jesus. Tudo aconteceu por causa da realidade do pecado ter entrado na humanidade, O ser humano decaído precisava de salvação. Jesus veio como Salvador. Na Comunhão eucarística entramos em contato profundo com o Salvador, a fim de que a salvação se faça realidade em nós, pelo fato de aceitarmos Jesus. E interessante perceber como no Sábado de Aleluia, na hora da proclamação solene da ressurreição, a Igreja exclama: “O feliz culpa que nos mereceu tão grande Redentor!”
A redenção adquirida por Jesus na cruz precisa personalizar-se. Não é automática. Pelo fato de Jesus ter morrido na cruz, não podemos simplesmente dizer: “Que bom! Jesus morreu na cruz! Resgatou-nos com seu sacrifício! Derramou seu sangue pelo nosso resgate! Então, aleluia! Estamos todos salvos! Vamos todos para o céu!” Realmente, Jesus morreu por todos. Mas é preciso que, pela fé, nós “o aceitemos” como nosso Salvador pessoal, e, pelo nosso relacionamento com ele, nos “apropriemos” dessa redenção pessoal que um dia ele fez acontecer na cruz.
Lembre-se da comparação que fiz, anteriormente, com o remédio da Aids e a necessidade de fazer tratamento. De nada adiantará Jesus ter morrido na cruz se nós não “comprarmos o remédio”, “não fizermos o tratamento.” E preciso que aceitemos Jesus pela fé, aceitemos a oferta da salvação e a deixemos acontecer na caminhada de nossa vida, no mais profundo do nosso ser. Para que o nosso espírito, o nosso psíquico, o nosso emocional e o nosso físico sejam resgatados, sejam libertos e curados cada vez mais, e sempre mais profundamente, precisamos nos “apropriar” da redenção realizada por Jesus.
A nossa redenção pessoal e social precisa acontecer progressivamente. Mas ela acontece na caminhada da vida. Ela acontece à medida que caminhamos com o Senhor, à medida que, pelos Sacramentos, pela liturgia, pela fé em Jesus, pela Palavra de Deus, pela pratica da penitência, vamos tomando os “remédios espirituais”. Estas práticas vão fazendo acontecer a nossa redenção interior, o nosso resgate das garras de todos os pecados e males que estão em nós.
Jesus nos deixou o “remédio necessário” para a nossa salvação. Ele é o divino médico. Aliás, ele é o “médico-remédio” exatamente porque ele é o Salvador É pelo contato com ele que vamos adquirindo a salvação, a qual vai invadindo todo o nosso ser e vai curando, libertando e transformando -nos interiormente em novas criaturas.

O MAIOR CANAL DE REDENÇÃO
O melhor de todos os modos de Jesus atuar e fazer acontecer a nossa redenção pessoal é pela sagrada Eucaristia. Entre todos os canais de redenção, entre todos os tipos de remédios de redenção que possuímos, o mais forte, o mais eficaz, o mais profundo é a presença real de Jesus na Eucaristia. Por quê? Porque ali há um contato direto e interpessoal com o Salvador Porque é Jesus presente na Eucaristia quem faz acontecer a nossa salvação. Pela santa Comunhão, aquele Jesus que se entregou ao Pai, na cruz, pela nossa salvação, invade o nosso ser para tomá-lo, resgatá-lo e santificá-lo.
Para compreender bem essas coisas é preciso que nos perguntemos: “O que é Comunhão? O que é Comungar? O que é, de fato, Comungar?”
Não me parece tão fácil fazer entender de maneira bem existencial “o que é comungar”. Na verdade é fácil dizer fórmulas, como: “Comungar é receber Jesus”. Mas o que significa, de fato, “receber Jesus”? Será que alguém, pelo fato de engolir a Hóstia consagrada, já recebeu Jesus? Pode ser que sim! Mas pode ser que não! Outra fórmula: “Comungar é comer o Corpo e beber o Sangue do Senhor”! Mas o que significa comer o Corpo e beber o Sangue cio Senhor? Desculpem a crueza das minhas expressões. Mas será que receber o Corpo e o Sangue do Senhor é comer um bife da carne de Jesus e beber um gole daquele sangue que correu por suas veias? Será que é isso mesmo? Ou a expressão “comer carne e beber sangue de Jesus” teria outro sentido?
Outros dizem: “Comungar é receber a Hóstia consagrada”. Mas o que se entende por “receber á Hóstia consagrada”? Que significa isso?

O QUE É, DE FATO, COMUNGAR
O que é, de fato, comungar? O que é, de fato, receber a santa Comunhão? O ponto de partida é aquele sobre o qual tenho insistido diversas vezes, que “a Eucaristia não é uma coisa”! A Eucaristia é uma pessoa, a pessoa de Jesus! E ele quem está realmente presente, com seu corpo, seu sangue, sua divindade, seu modo de ser e de pensar, seus mandamentos, seu evangelho. Tudo isso é ele. E a ele, assim completo, inteiro, que encontramos presente na Eucaristia! Comungar significa, portanto, entrar em contato profundo com Jesus! Comungar significa entrar em contato com Jesus vivo, ressuscitado, por meio do sinal da Hóstia e do Vinho consagrados, que agora são seu Corpo e seu Sangue, ou seja, são ele.
A palavra “comungar”, em português, não nos ajuda muito a compreender a Comunhão eucarística. Aliás, nem é muito usada na linguagem comum, fora da linguagem religiosa. As vezes encontramos pessoas que dizem: “Eu não comungo das ideias do padre da minha paróquia) Outra pessoa afirma: “Eu comungo profundamente com o modo de sei cio nosso bispo”. O que essas pessoas querem dizer quando fazem tais declarações? Afirmam que concordam ou discordam; que têm sintonia ou dissintonia; que tem unidade, ou que não a têm. Isso nos ajuda bem pouco a entender Comunhão eucarística.
Já, por exemplo, na língua italiana, além de outras expressões usadas, quando alguém diz que vai comungar, afirma: “Iovado a comunicarmi”, quer dizer: Eu vou me comunicar. Ou: ‘Io mi comunico: Eu me comunico. Ou “Mi sono comunicata: Eu me comuniquei. Ou “Non mi posso comunicare”: Eu não posso me comunicar. Diante dessas expressões, perguntamos: “Com quem você vai se comunicar”? Com quem você se comunicou? Por que você não pode comunicar-se? Realmente, quando falamos em “comungar”, precisamos sempre ter muito presente a realidade que “comungamos alguém”, que “entramos em comunicação com alguém”.E com a pessoa de Jesus vivo que vamos nos comunicar, cine vamos comungar, fazer comunicação.
Comunhão eucarística não é urna coisa que se faz, pois a Hóstia consagrada não é urna coisa. E uma pessoa. No sacrário não ternos uma “coisa preciosa” guardada. No sacrário está uma “pessoa preciosíssima” guardada: a pessoa de Jesus ressuscitado. Portanto, a Eucaristia não é urna coisa, mas uma pessoa. E a Pessoa de Jesus vivo. Portanto, comungar é acolher, é receber a pessoa de Jesus vivo, ressuscitado, glorioso, oculto sob as aparências do pão e cio vinho consagrados. Comungar é acolher, é receber a Pessoa de Jesus vivo.
O que queremos exprimir quando dizemos que “recebemos, que acolhemos alguém? Parece-me que a palavra “acolher” é bastante forte. Parece-me que acolher significa “abrir a porta cio coração e deixar alguém entrai; assim como ele é”. Então, acolher Jesus na Comunhão significa “abrir as portas da vida para deixar Jesus entrar, com o desejo de que ele permaneça no meu caminho como alguém muito importante para mim”.

UM EXEMPLO HUMANO
Um dia, urna senhora contava-me algo a respeito da transformação de sua filha. Era uma moça universitária, muito rebelde e revoltada, e que tudo fazia para contrariar seus pais. Ela era causa de sofrimento constante para os pais. Certo dia ela começou a namorar. Namorou um jovem maravilhoso, maduro, responsável, cristão consciente, de excelente personalidade, honesto e firme em suas convicções.
Passados uns seis meses, a moça mudou completamente. O namorado, devagarinho, com sabedoria, pela firmeza de seus princípios, por seu amor verdadeiro, foi dialogando, aconselhando, questionando, mudando a namorada. Meses depois, a mãe dizia: “Nossa filha, agora, é urna jóia! Não é mais a mesma! A partir do dia em que aquele moço entrou em sua vida ela mudou! Mudou completamente!”
Caro ministro, eis o que é Comunhão. Comungar é acolher Jesus em nossa vida para que ele nos transforme. Quando Jesus entra em nossa vida, e nós renovamos frequentemente os nossos contatos com ele pela Comunhão, ele irá nos convertendo, curando, libertando, transformando-nos em novas criaturas, em pessoas renovadas.
Aquele casal de namorados vivia “em comunhão” de amor, “se comungava , vivia em comum-união. E nessa comum-união, a parte boa foi remindo, resgatando, libertando, curando, transformando a parte que não estava bem. Assim deve acontecer na Comunhão com Jesus. De fato, quando nós cultivamos uma amizade profunda com Jesus vivo por meio dos encontros de comunhão, devagarinho ele vai nos libertando, curando, transformando em novas criaturas.
A Comunhão eucarística é, portanto, também uma renovação daqueles encontros especiais que realizamos com ele, para confirmar a aceitação que fazemos dele; para confirmar que nós o queremos sempre mais; para confirmar que nós precisamos sempre mais dele; para confirmar que nós precisamos da força dele para que a nossa conversão e a nossa redenção vão acontecendo sempre mais, e sempre mais profundamente.
Comungar é desejai; querei; decidir-se mais urna vez a aceitar e receber Jesus vivo como nosso Deus, como nosso Salvador pessoal, como nosso mestre, caminho, verdade e vida, comprometendo-nos a viver ainda mais como seus discípulos.
Você percebe, com certeza, que as comunhões não são atos isolados. As nossas comunhões não podem ser atos isolados, independentes umas das outras. Como se fosse assim: “Jesus agora não está em mim, então eu vou comungar para que ele esteja comigo. Depois da Missa ele vai embora e eu fico sozinho, e, por isso, em outra oportunidade, vou recebê-lo novamente para que volte a mim e esteja comigo. Mas depois ele desaparece de novo, e eu vou buscá-lo novamente”. Comungar não é isso, não! As nossas comunhões são renovações, reafirmações e aprofundamentos da união de amor que já existe entre nós e Jesus. A repetição da Comunhão é um modo de intensificar e fazer crescer a “comum-união”, a amizade, o relacionamento que já deve existir entre nós e Jesus vivo.

OUTRA COMPARAÇÃO
Vou fazer uma comparação entre a comunhão com Jesus , e a“comunhão de amor” entre marido e mulher, nas relações sexuais. Quando marido e mulher se amam profundamente, quando eles mantêm urna vida de afetividade profunda e vivem um amor verdadeiramente profundo, não significa que eles “não precisem mais” dar novas provas de amor. Ao contrário, o   amor que vibra em seus corações os leva a quererem demonstrar sempre de novo o amor que sentem um pelo outro. Ora, uma dessas demonstrações é a “comunhão maior que fazem um do outro”, por meio da união dos corpos, na relação sexual. A relação sexual realizada em amor é uma verdadeira comunhão. O marido comunga totalmente a esposa, e a esposa comunga totalmente seu marido. Realizam essa comunhão para fazer acontecer uma unidade ainda maior no amor, bem para que, por meio desse ato, se solidifique, se aprofunde e se reafirme o amor que já existe entre eles. Na verdade, após cada relação sexual, o marido deveria estar ainda mais apaixonado pela esposa, e ela pelo marido.
Essa comparação pode nos auxiliar a compreender a nossa Comunhão eucarística com Jesus. Cada Comunhão é um novo encontro com Jesus, que aliás já está conosco. E um novo encontro para reafirmar e aprofundar os nossos laços de aceitação de Jesus como nosso Deus e Salvador, como nosso mestre, bom Pastor e amigo.

QUE SIGNIFICA RECEBER JESUS NO CORAÇÃO?
Comungar é receber Jesus no coração. Esta expressão, “receber Jesus no coração”, é muito linda e apropriada, mas é preciso compreendê-la existencialmente. Quando dizemos “Jesus está no meucoração, ou declaramos “eu recebi Jesus em meu coração , não estamos afirmando que, antes da Comunhão, ele estava “fora”, e queagora, pela Comunhão realizada, ele está “dentro” de nós. Compreendamo que vou dizer: Papai Dionísio e mamãe Ana — embora estejam no céu, pois são falecidos — eles moram no meu coração, no coração do Pe. Alírio. Sim, eles moram aqui no meu coração. Aliás, meus oito irmãos e irmãs, a quem tanto amo, também moram no meu coração. Com certeza você compreendeu o que eu afirmei. Afirmei que eles são muito importantes para mim; que, sem eles, ficaria um vazio em meu coração; que eu os amo muito e quero tudo de bom para eles. Por isso eu posso dizer que “eles moram no meu coração”! É claro que eles não estão “fisicamente” dentro de mim! Moram pela profunda ligação de amor que existe entre nós.
Volto a perguntar: “Quem mora rio coração de uma mãe?” Moram o marido, os filhos, os genros, noras e netos. Moram todas as pessoas que são importantes, queridas e amadas por ela.
Caro ministro, essas comparações nos ajudam a compreender a Comunhão com Jesus. Entendemos que, um dia, quando conhecemos Jesus e descobrimos toda sua divina riqueza, nós o elegemos como nosso Deus, nosso Salvador pessoal, nosso Redentor Foi quando fizemos um encontro profundo com Jesus e ele entrou em nossas vidas como alguém muito importante, até necessário e imprescindível para o nosso vivei Porque Jesus entrou em nossas vidas e faz parte importante de nossa existência, dizemos que ele mora em nosso coração. E porque ele nos ama e nós o amamos, gostamos de reencontrá-lo sempre de novo. E esses reencontros acontecem de urna forma toda particular e especial pela santa Comunhão eucarística. Comungar, portanto, é renovar e aperfeiçoar nossa amizade e nosso relacionamento com Jesus vivo, presente no sinal eucarístico.
Se eu lhe dissesse: “Jesus já não mora no meu coração”, você entenderia que “eu não posso e nem devo comungá-lo na Eucaristia”. Para que eu possa comungar Jesus, ou seja, para que eu possa fazer encontros de comunhão com ele, é preciso que “ele já esteja morando no meu coração” antes da Comunhão. E preciso que eu esteja “de bem” com ele, que eu esteja “em estado de graça” com ele. Ministro, você está entendendo?
Aliás, é por isso que as pessoas que estão “em estado de pecado grave, de pecado mortal” não podem comungar Jesus! Não podem, porque estão de relações cortadas com Jesus, porque estão “brigados” com Jesus, pelo pecado grave. Esse afastamento da Comunhão,portanto, não é decretado por uma lei eclesial, ou por urna norma humana. A exclusão da Comunhão com Jesus se dá porque as pessoas em pecado grave “não estão em comunhão” de amor e de graça com o Senhor, não estão em estado de graça, de amizade, de bem querer com Jesus. Estão de relações cortadas com Jesus, porque realizaram algum ato tão grave que as cortou da amizade com o Senhor.
É fácil compreender que, se alguém está de relacionamento cortado com Jesus, antes de se apresentar para comungar precisa reconhecer o seu pecado, pedir perdão e mudar de vida, a fim de que possa voltar a conviver com ele. Diria que, antes de voltarem a encontrar-se com Jesus, na Comunhão, elas precisam “fazer as pazes” com ele. Precisam reatar o relacionamento com ele. Feitas as pazes pela confissão sacramental, as pessoas serão novamente acolhidas em Comunhão com Jesus.

COMUNGAR: ACEITAR JESUS NA SUA TOTALIDADE
Comungar é acolher e aceitar Jesus ressuscitado todo. Quero dizer: seu corpo e sangue, seu espírito, psíquico e físico ressuscitado, seu modo de sei seu modo de pensai’, seu modo de agir, seu querer, seu amar seus mandamentos, seu evangelho, seu perdão, enfim, aceitá-lo todo, sem limites ou restrições de nada.
Por exemplo. Não se pode querer comungar Jesus na Eucaristia e dizer-lhe: “Jesus, eu te quero muito! Eu te comungo! Mas eu não aceito esse negócio de fidelidade matrimonial! Isso eu não aceito”. Na verdade essa pessoa não está comungando Jesus. Não está em “comum-união” com o Senhor. Não está, pois rejeita um mandamento importante instituído por ele.
Alguém diria a Jesus: “Jesus, eu aceito você maravilhosamente, de todo meu coração, mas não acredito na Santíssima Trindade! Não creio nessa história de um Deus em três pessoas”! Essa pessoa não está mais em comunhão com o Senhor, e por isso não pode querer comungá-lo na Eucaristia. Outro poderia dizer: “Jesus, eu aceito você de todo meu coração, eu quero fazer Comunhão com você, mas eu não acredito nesse negócio de purgatório e de inferno que você disse existir! Jesus, eu não creio nessas coisas”. Também essa pessoa não está “em comunhão” com Jesus todo, e por isso está excluída do encontro com ele na Eucaristia.
Ao entrar em comunhão com Jesus vivo na Eucaristia, pelo próprio fato de comungá-lo, nós estamos afirmando que o aceitamos e acolhemos na sua totalidade. De fato, é preciso comungá-lo todo. Em Jesus não podemos separar ou dividir ou excluir nada. Nada mesmo. Quando realizamos urna Comunhão eucarística, portanto, comungamos plenamente a Jesus, com tudo o que lhe diz respeito.
Comungar é abrir inteiramente a nossa vida para acolher o modo de viver de Jesus, para viver um pouco como ele vive, e para ser um pouco como ele é. Comungar é procurar amar como Jesus ama, pensar como Jesus pensa, perdoar como Jesus perdoa, acolher como Jesus acolhe, orar como ele ora, amar o próximo como ele ama.
Comungar é acolher Jesus vivo na Eucaristia, a fim de que ele se manifeste no mais profundo do nosso ser, e para que agindo pela ação e força de seu Espírito, bem como pela força de sua presença e de sua palavra, sejamos cada vez mais transformados à semelhança dele. E então, como São Paulo, possamos dizer: “Já não sou eu que vivo, mas é Jesus quem vive em mim!” Paulo sentia que ele era apenas “a casca”. Mas que, na verdade, o cerne, a essência de sua pessoa, era Jesus. Estava consciente de que o seu modo de pensar era o de Jesus; que o seu querer coincidia com o querer de Jesus; que o seu modo de perdoar era o mesmo de Jesus. Em outra oportunidade Paulo escreveu: “Para mim, viver é Cristo”. Quis dizer: “Eu procuro viver exatamente como Jesus”.

COMUNGAR IMPLICA ACEITAR JESUS SEMPRE MAIS
Comungar Jesus na Eucaristia é decidir-se a aceitá-lo todo, e sempre mais, como Deus, Salvador e mestre. Comunga:’ Jesus é querer aceitar “o seu modo de pensar”. E fazer do seu modo de pensar o nosso. E ter as mesmas convicções de Jesus.
Comungar Jesus é aceitar “o seu querer”, a sua vontade, para fazê-la nossa, a fim de que nós queiramos exatamente  o que Jesus quer.
Comungar é aceitar “os sentimentos” de Jesus, a fim de tê-los como nossos próprios sentimentos. São Paulo declara: “Tende em vós os mesmos sentimentos de Cristo Jesus”.
Comungar implica aceitar o amor de Jesus, acolhê-lo e nos deixar amar por ele. Deixarmo-nos amar por Jesus a ponto de permitir que ele realize sua obra de redenção em nós.
Comungar implica a aceitação de todos os seus mandamentos, a fim de cumpri-los como sendo os melhores caminhos para nós. Mais. Comungar é aceitar ainda mais o seu Evangelho para vivê-lo como nossa própria norma de vida. Comungar implica também a aceitação dos sacramentos de Jesus, a fim de celebrá-los cada vez melhor.

COMUNGAR OS QUERIDOS DE JESUS
Comungar Jesus na Eucaristia exige naturalmente que se aceite plenamente a sua Igreja, o povo de Deus, para nele viver como membro consciente, alegre, responsável e participativo. Não podemos comungar Jesus e excluir aqueles que lhe são tão queridos e preciosos, aqueles que ele remiu com o preço do seu sangue.
Comungar Jesus implica acolher ainda mais o seu Pai celeste, para tê-lo sempre mais como nosso Pai, e para vivermos como seus filhos. Caro ministro, saiba que quando você comunga Jesus, você comunga também o Pai celeste. E preciso, de fato, comungar o Pai. E comungar o Pai significa aceitá-lo sempre mais como seu Pai, deixar- se amar por ele, crescer no seu amor e viver uma vida digna desse Pai.
Mais ainda. Quando comunga Jesus, você precisa comungar o Espírito Santo. Não dá para comungar Jesus e não comungar o Espírito Santo. Por isso, cada Comunhão é um reencontro de acolhimento do Espírito Santo. E comungar o Espírito Santo é abrir-se sempre mais à sua ação santificadora, para ser sempre mais tocado e santificado por ele.
Comungar Jesus implica comungar também sua mãe, Maria. Não dá para comungar Jesus e excluir sua mãezinha. Ele nem aceitará ser recebido em Comunhão se excluirmos sua mãe. E comungar Maria significa aceitá-la sempre mais como nossa mãe sobrenatural, a fim de vivermos como seus filhos obedientes e imitadores.
Ao proclamar essas verdades vem-me ao pensamento o seguinte: Será que os nossos irmãos evangélicos “não têm a Eucaristia” porque “não têm Maria”, ou eles “não têm Maria” porque não “têm a Eucaristia”? Confesso que me faço esse questionamento há anos. Será que se em um determinado momento eles aceitarem e crerem na presença real de Jesus vivo na Eucaristia também não irão aceitar Maria? Ou, se eles começarem a acolher Maria como mãe, será que não descobrirão o filho dela, Jesus ressuscitado, presente na Eucaristia?

COMUNGAR OS MEMBROS VIVOS DE JESUS
Comungar Jesus implica aceitar e acolher todos os seus membros, isto é, todos os que nele creem, sem excluir ninguém. Prezado Ministro, cada vez que você entra em Comunhão com Jesus na Eucaristia precisa levar o mundo todo para dentro do seu coração, para amar a humanidade como Jesus a ama.
Declarando mais concreta e existencialmente essa realidade. Quando um marido comunga Jesus na Eucaristia, necessariamente está comungando, junto com Jesus: sua esposa, seus filhos, os genros, noras e netos. Comunga-os, pois são membros de Jesus Cristo. Comunga-os, a fim de amá-los ainda mais; amá-los como Jesus os ama. Quando uma esposa comunga Jesus, natural e necessariamente ela precisa levar ao seu coração seu marido, seus filhos, genros, noras e netos, a fim de amá-los ainda mais do que antes da Comunhão realizada. Por quê? Porque o marido, os filhos, os genros. noras e netos são o “braço direito de Jesus”, são “membros do Corpo místico de Jesus” que foi recebido na Comunhão.
Preste atenção a isto: Jesus não aceita ser comungado sem o braço direito. Ele não aceita entrar em nosso coração “mutilado”. Jesus não aceita. Ou nós o comungamos com todos os seus membros, ou nós não podemos comungá-lo. Quem exclui livre, voluntária e decididamente do seu coração alguma pessoa, seja quem for já não está apto e nem pode receber Jesus eucarístico.Dessa realidade nasce uma conclusão muito positiva, bonita e edificante. A santa Comunhão com Jesus vivo se tornará uma renovada fonte maravilhosa de graças toda vez que o marido se lembrar que, junto com Jesus Ressuscitado, estão a esposa, os filhos, os netos, bem como todos os seus parentes e amigos. E, por lembrar, ele se decidirá a levá-los todos ao seu coração, com a mesma devoção como leva Jesus, e com a mesma vontade de amá-los, como deseja amar ao próprio Jesus.

COMUNHÃO: FONTE DE AMOR
Por certo você está percebendo que a Comunhão eucarística é urna grande fonte de caridade, fonte de amor familiar e de amor fraterno. Se nós compreendermos corretamente o que é comungar, compreenderemos que, ao comungar Jesus, que é a Cabeça do Corpo, nós precisamos comungar também todos os seus membros. E compreenderemos que os membros do corpo de Jesus são todos os nossos irmãos. Principalmente o nosso próximo mais próximo. E eu pergunto:qual é o próximo mais próximo do marido? Sem dúvida, são a esposa, os filhos e todos os familiares. E qual é próximo mais próximo da esposa? E dos filhos?
Caro ministro, atenção para uma outra consideração importante. Ao comungar Jesus, na Eucaristia, nós não podemos comungar somente os “membros doces”. Não podemos comungar apenas as pessoas que nos são agradáveis, amigas, simpáticas. Precisamos comungar também as “pessoas amargas”. Quero dizer, aquelas que não amamos, que nos são antipáticas, que nos rejeitam ou que nos ofenderam e prejudicaram. Atenção para esta verdade. Se nós excluirmos consciente e decididamente da “nossa comunhão”, isto é, do “nosso amor e perdão” alguém que seja “amigo”, já não poderemos mais receber Jesus. Não podemos, porque essa pessoa também é o “braço direito” de Jesus.
Ministro, como percebe, realizar uma Comunhão eucarística não é só abrir a boca, receber e engolir uma Hóstia.

COMUNHÃO: MARAVILHA DO AMOR DE JESUS
Que grande maravilha é a Comunhão eucarística! Que mistério grandioso e santo! Que grande amor Jesus nos demonstra em cada santa Comunhão!
Sim, a Comunhão eucarística é um mistério maravilhoso que o nosso querido Jesus teve a intuição, a inteligência, a capacidade e a criatividade de instituir e de nos presenteiam E verdadeiramente maravilhoso perceber que Jesus, ao instituir a Santíssima Eucaristia, não apenas nos deixou o seu sacrifício de valor infinito oferecido na Cruz, mas que ele “se deixou”! Quis “estar presente” na Hóstia consagrada, exatamente para que nós possamos fazer Comunhão com ele. E nele podermos fazer comunhão com o Pai, com o Espírito Santo, com Maria, com a Igreja toda, e com todos os nossos irmãos. E, de fato, um mistério maravilhoso. E um mistério prodigioso. Mistério que nós conseguimos compreender muito bem “com o coração”, graças à ajuda do Espírito Santo.
Como você percebe, comungar não é “engolir uma Hóstia. Percebe, também, que comungar não é apenas “engolir Carne e Sangue de Jesus”. Deixe-me dizê-lo. Quando se diz que na Comunhão “recebemos a Carne e o Sangue”, ou “o Corpo e o Sangue”, é para entender que “acolhemos a Jesus vivo, glorioso”, afinal se faz “comida e bebida para nós”. Ele se faz “comida e bebida para nós” no sentido de que “por sua presença viva em nós”, ele “se torna” o “alimento, a força, o vigor, a coragem” para a nossa caminhada de vida cristã de cada dia, caminhada que fazemos em busca da salvação e da santidade. Assim como a comida material — arroz, feijão, carne, pão, água, café e chá — fortalece nosso corpo para que tenhamos boa saúde e disposição para o trabalho, bem como para todos os afazeres e compromissos, assim Jesus vivo, recebido na santa Comunhão, precisa ser “a força interior”, “o companheiro forte, bom e corajoso” de nosso caminhar na vida cristã.
Comungar Jesus, e repetir sempre esse gesto de acolhimento, faz de Jesus vivo “o nosso cicerone”, “o nosso condutor”, “o nosso guia”, que conhece muito bem todos os caminhos pelos quais precisamos caminhar, e por isso nos auxilia a andarmos com segurança total, sem desvios ou acidentes graves.
E evidente que, se comungamos Jesus todo, temos de receber também a sua carne e o seu sangue glorificados, porque fazem parte dele. Ele assumiu corpo e sangue humanos. Mas Jesus não e só carne e sangue. Na Hóstia consagrada está “realmente presente”, “pessoalmente presente”, Jesus vivo e ressuscitado, Filho de Deus, Salvador, com sua divindade e humanidade, portanto com seu espírito, psíquico e emocional, com seu corpo e sangue. Jesus está todo, completo, pessoalmente presente, tanto no sinal do Pão consagrado como no sinal do Vinho consagrado.
Aliás, essa última declaração precisa ficar muito bem compreendida por você, ministro da Eucaristia. Deve saber que se você assiste a um enfermo ou idoso, e a ele você leva Jesus para que comungue, se, porventura, um dia ele já não pode engolir a Hóstia consagrada, você pode — e deveria — levar Jesus presente na espécie do Vinho consagrado. Você sabia disso? Saiba que Jesus está tão presente na Hóstia consagrada como no Vinho consagrado.
Entende que aquilo que vemos com nossos olhos são “as espécies sacramentais”, são o “sinal visível” criado por Jesus, a fim de estar conosco de forma sensível. Lembre-se que Jesus quis nos dar este sinal externo: pão e vinho, como sinal de garantia da sua presença real. Por meio desse sinal, nós tenhamos plena certeza de sua presença, pois foi ele mesmo quem quis se dar a nós.

PARA DAR FRUTOS
Nossos encontros com Jesus vivo pela santa Comunhão eucarística devem produzir muitas consequências boas para o nosso viver pessoal, familiar e comunitário. Mas para que essas consequências surjam e se manifestem, o comungante precisa colaborar e corresponder.
Falemos de algumas colaborações importantes.

PRIMEIRA. Para que o encontro com Jesus ria Comunhão produza frutos de redenção e de vida santa é preciso que a pessoa saiba exatamente “o que é comungar”, e queira comungar Jesus plenamente, como procurei explicai longamente.
SEGUNDA E importante, também, que o comungante faça uma “preparação” imediatamente antes da Comunhão. E preciso estimular a fé na presença real de Jesus, para que a Comunhão “não seja um engolir uma Hóstia”, mas um encontro pessoal com Jesus. E preciso também despertar um vivo desejo de encontrar-se com Jesus na Comunhão. Criar um clima de expectativa, deixar o coração ansioso, desejoso e preparado para realizar esse encontro pessoal com o Senhor.
TERCEIRA O comungante precisa procurar realizar o ato da Comunhão muito conscientemente. Precisa cuidar para que o ato do encontro com Jesus, na Comunhão, não aconteça de forma apressada, despreparada, a ponto de ter a impressão de apenas ter engolido uma coisa, um pãozinho bento.

A AÇÃO DE GRAÇAS
Também é muito importante, para um bom prolongamento do encontro realizado com o Senhor, que se faça um bom momento de ação de graças após a Comunhão. Que se permaneça por um bom tempo em união com Jesus, em atitude de agradecimento. Permanecer cordial- mente unido ao Senhor, na alegria e na bênção de ter podido recebê-lo.
O Santo Padre, não faz tempo, queixou-se que os católicos não mais fazem a “ação de graças” após a Comunhão eucarística, após ter recebido Jesus em Comunhão. Por falta de prolongamento da Comunhão, esse encontro com Jesus é rapidamente esquecido. Jesus fica só e abandonado na “sala do coração”. Aliás, é também por isso que muitas bênçãos que Jesus poderia conceder ficam sem acontecer.
Se não cuidarmos, nossas Comunhões podem virar rotina! Para que isso não ocorra, após o santo encontro com Jesus, precisamos permanecer com ele por mais um pouco de tempo, a fim de estreitarmos nossos laços de união, bem como para levarmos sua pessoa viva para a nossa vida de cada dia.
Lembre-se de que a santa Comunhão com Jesus não começa ao receber a Hóstia consagrada, e que também não termina com a santa Missa. Lembre-se de que a sua “vida de comunhão com Jesus” precisa existir permanentemente. E preciso permanecer “em comunhão” com Jesus, sempre. Ele afirmou: “Quem come a minha carne e bebe o meu sangue permanece em mim e eu nele”.

ENCONTROS PARA ENGROSSAR LAÇOS DE AMOR COM JESUS
Lembro mais urna vez. As repetições da santa Comunhão eucarística têm corno finalidade reanimar sempre, reforçar cada vez mais, aprofundar ainda mais, sempre mais, o nosso relacionamento pessoal com Jesus Cristo, a fim de que ele, como nosso Salvador, possa fazer acontecer em nós, em profundidade cada vez maior a nossa redenção pessoal e a nossa santificação.
Que o Espírito Santo de Deus, que é o poder transubstanciador do pão e do vinho em Corpo e Sangue de Jesus, o ajude, caro ministro, a compreender toda a abrangência do que significa “o encontro com Jesus na Comunhão eucarística”.

SUGESTÕES PARA APROFUNDAMENTOS
Aprofundar estas perguntas.
1. “Tomai e comei: isto é o meu Corpo que será entregue porvós”! “Tomai e bebei, este é o cálice do meu Sangue... que seráentregue por vós”. Quais são as palavras que revelam a presença do “Sacrifício” de Jesus, e quais as que revelam a santa “Comunhão”?
2. Alguém lhe suplica: “Por favor, explica-me: o que é de fato comungar”? Como você explicaria?
3. O que significa “comungar o Corpo de Cristo”? E “comungara cabeça” desse Corpo? E “comungar os membros” dessecorpo?
4. Qual tem sido a profundidade de suas próprias comunhões?

5. O que tem facilitado ou o que tem dificultado suas Comunhões eucarísticas?









ECCLESIA DE EUCHARISTL

CAPÍTULO I


MISTÉRIO DA FÉ
11. « O Senhor Jesus, na noite em que foi entregue» (1 Cor 11, 23), instituiu o sacrifício eucarístico do seu corpo e sangue. As palavras do apóstolo Paulo recordam-nos as circunstâncias dramáticas em que nasceu a Eucaristia.Esta tem indelevelmente inscrito nela o evento da paixão e morte do Senhor. Não é só a sua evocação, mas presença sacramental. E o sacrifício da cruz que se perpetua através dos séculos.(2) Esta verdade está claramente expressa nas palavras com que o povo, no rito latino, responde à proclamação «mistério da fé» feita pelo sacerdote: « Anunciamos, Senhor, a vossa morte ».
A Igreja recebeu a Eucaristia de Cristo seu Senhor, não como um dom, embora precioso, entre muitos outros, mas como o dom por excelência, porque dom d’Ele mesmo, da sua Pessoa na humanidade sagrada, e também da sua obra de salvação. Esta não fica circunscrita no passado, pois « tudo o que Cristo é, tudo o que fez e sofreu por todos os homens, participa da eternidade divina, e assim transcende todos os tempos e em todos se torna presente ».(10)
Quando a Igreja celebra a Eucaristia, memorial da morte e ressurreição do seu Senhor, este acontecimento central de salvação torna-se realmente presente e «realiza-se também a obra da nossa redenção ». (11) Este sacrifício é tão decisivo para a salvação do gênero humano que Jesus Cristo realizou-o e só voltou ao Pai depois de nos ter deixado o meio para dele participarmos como se tivéssemos estado presentes. Assim cada fiel pode tomar parte nela, alimentando-se dos seus frutos inexauríveis. Esta é a fé que as gerações cristãs vieram ao longo dos séculos, e que o magistério da Igreja tem continuamente reafirmado com jubilosa gratidão por dom tão inestimável(12) E esta verdade que desejo recordar mais uma vez, colocando-me convosco, meus queridos irmãos e irmãs, em adoração diante deste Mistério: mistério grande, mistério de misericórdia. Que mais poderia Jesus ter feito por nós?Verdadeiramente, na Eucaristia demonstra-nos um amor levado até ao « extremo » (cf. Jo 13, 1), um amor sem medida.
12. Este aspecto de caridade universal do sacramento eucarístico está fundado nas próprias palavras do Salvador. Ao instituí-lo, não Se limitou a dizer « isto é o meu corpo », «isto é o meu sangue », mas acrescenta: « entregue por vós (...) derramado por vós » Lc 22, 19-20). Não se limitou a afirmar que o que lhes dava a comer e a beber era o seu corpo e o seu sangue, mas exprimiu também o seu valor sacrificia4 tornando sacramentalmente presente o seu sacrifício, que algumas horas depois realizaria na cruz pela salvação de todos. «A Missa é, ao mesmo tempo e inseparavelmente, o memorial sacrifical em que se perpetua o sacrifício da cruz e o banquete sagrado da comunhão do corpo e sangue do Senhor ».(13)
A Igreja vive continuamente do sacrifício redentor, e tem acesso a ele não só através duma lembrança cheia de fé, mas também com um contato atual, porque este sacrifício volta a estar presente, perpetuando-se, sacramentalmente, em cada comunidade que o oferece pela mão do ministro consagrado. Deste modo, a Eucaristia aplica aos homens de hoje a reconciliação obtida de uma vez para sempre por Cristo para humanidade de todos os tempos. Com efeito, « o sacrifício de Cristo e o sacrifício da Eucaristia são um único sacrifício ».(14) Já o afirmava em palavras expressivas S. João Crisóstomo: «Nós oferecemos sempre o mesmo Cordeiro, e não um hoje e amanhã outro, mas sempre o mesmo. Por este motivo, o sacrifício é sempre um só. [...]Também agora estamos a oferecer a mesma vítima que então foi oferecida e que jamais se exaurirá ».(15)


A Missa torna presente o sacrifício da cruz; não é mais um, nem o multiplica.(16) O que se repete é a celebração memoria4 a «exposição memorial» (memorialisdemonstratio), (17) de modo que o único e definitivo sacrifício redentor de Cristo se atualiza incessantemente no tempo. Portanto, a natureza sacrificial do mistério eucarístico não pode ser entendida como algo isolado, independente da cruz ou com uma referência apenas indireta ao sacrifício do Calvário.
13. Em virtude da sua intima relação com o sacrifício do Gólgota, a Eucaristia é sacrifício em sentido próprio, e não apenas em sentido genérico como se se tratasse simplesmente da oferta de Cristo aos fiéis para seu alimento espiritual. Com efeito, o dom do seu amor e da sua obediência até ao extremo de dar a vida (cf. Jo 10,17-18) é em primeiro lugar um dom a seu Pai. Certamente, é um dom em nosso favor, antes em favor de toda a humanidade (cf. Mt 26, 28; Mc 14, 24; Lc 22, 20; Jo 10, 15), mas primariamente um dom ao Pai: « Sacrifício que o Pai aceitou, retribuindo esta doação total de seu Filho, que Se fez “obediente até à morte” (Flp 2, 8), com a sua doação paterna, ou seja, com o dom da nova vida imortal na ressurreição ».(18)
Ao entregar à Igreja o seu sacrifício, Cristo quis também assumir o sacrifício espiritual da Igreja, chamada por sua vez a oferecer-se a si própria juntamente com o sacrifício de Cristo. Assim no-lo ensina o Concílio Vaticano II: «Pela participação no sacrifício eucarístico de Cristo, fonte e centro de toda a vida cristã, [os fiéis] oferecem a Deus a vítima divina e a si mesmos juntamente com ela ».(19)
14. A Páscoa de Cristo inclui, juntamente com a paixão e morte, a sua ressurreição. Assim o lembra a aclamação da assembleia depois da consagração: «Proclamamos a vossa ressurreição ». Com efeito, o sacrifício eucarístico toma presente não só o mistério da paixão e morte do Salvador, mas também o mistério da ressurreição, que dá ao sacrifício a sua coroação. Por estar vivo e ressuscitado é que Cristo pode tornar-Se « pão da vida» (Jo 6, 35.48), « pão vivo » (Jo 6, 51), na Eucaristia. S. Ambrósio lembrava aos neófitos esta verdade, aplicando às suas vidas o acontecimento da ressurreição: «Se hoje Cristo é teu, Ele ressuscita para ti cada dia ».(20) Por sua vez, S. Cirio de Alexandria sublinhava que a participação nos santos mistérios «é uma verdadeira confissão e recordação de que o Senhor morreu e voltou à vida por nós e em nosso favor».(21)
15. A reprodução sacramental na Santa Missa do sacrifício de Cristo coroado pela sua ressurreição implica uma presença muito especial, que — para usar palavras de Paulo VI — «chama-se “real”, não a título exclusivo como se as outras presenças não fossem “reais”, mas por excelência, porque é substancial, e porque por ela se torna presente Cristo completo, Deus e homem ».() Reafirma-se assim a doutrina sempre válida do Concílio de Trento: « Pela consagração do pão e do vinho opera-se a conversão de toda a substância do pão na substância do corpo de Cristo nosso Senhor, e de toda a substância do vinho na substância do seu sangue; a esta mudança, a Igreja católica chama, de modo conveniente e apropriado, transubstanciação ». (23) Verdadeiramente a Eucaristia é nysteriumfidei, mistério que supera os nossos pensamentos e só pode ser aceite pela fé, como lembram frequentemente as catequeses patrísticas sobre este sacramento divino. « Não hás-de ver — exorta S. Cirilo de Jerusalém — o pão e o vinho [consagrados] simplesmente como elementos naturais, porque o Senhor disse expressamente que são o seu corpo e o seu sangue: a fé t’o assegura, ainda que os sentidos possam sugerir-te outra coisa ».(24)
« Adoro te devote, latens Deitas »: continuaremos a cantar com S. Tomás, o Doutor Angélico. Diante deste mistério de amor, a razão humana experimenta toda a sua limitação. Compreende-se como, ao longo dos séculos, esta verdade tenha estimulado a teologia a árduos esforços de compreensão.
São esforços louváveis, tanto mais úteis e incisivos se capazes de conjugarem o exercício crítico do pensamento com a «vida de fé» da Igreja, individuada especialmente «no carisma da verdade » do Magistério e na «íntima inteligência que experimentam das coisas espirituais» (25) sobretudo os Santos. Permanece o limite apontado por Paulo VI: « Toda a explicação teológica que queira penetrar de algum modo neste mistério, para estar de acordo com a fé católica deve assegurar que na sua realidade objetiva, independentemente do nosso entendimento, o pão e o vinho deixaram de existir depois da consagração, de modo que a partir desse momento são o corpo e o sangue adoráveis do Senhor Jesus que estão realmente presentes diante de nós sob as espécies sacramentais do pão e do vinho ».(26)
16. A eficácia salvífica do sacrifício realiza-se plenamente na comunhão, ao recebermos o corpo e o sangue do Senhor. O sacrifício eucarístico está particularmente orientado para a união íntima dos fiéis com Cristo através da comunhão: recebemo-Lo a Ele mesmo que Se ofereceu por nós, o seu corpo entregue por nós na cruz, o seu sangue «derramado por muitos para a remissão dos pecados » Mt 26, 28). Recordemos as suas palavras: «Assim como o Pai, que vive, Me enviou e Eu vivo pelo Pai, assim também o que Me come viverá por Mim» (Jo 6, 57). O próprio Jesus nos assegura que tal união, por Ele afirmada em analogia com a união da vida trinitária, se realiza verdadeiramente. A Eucaristia 6 verdadeiro banquete, onde Cristo Se oferece como alimento. A primeira vez que Jesus anunciou este alimento, os ouvintes ficaram perplexos e desorientados, obrigando o Mestre a insistir na dimensão real das suas palavras: «Em verdade, em verdade vos digo: Se não comerdes a carne do Filho do Homem e não beberdes o seu sangue, não tereis a vida em vós » (Jo 6, 53). Não se trata de alimento em sentido metafórico, mas «a minha carne é, em verdade, uma comida, e o meu sangue é, em verdade, uma bebida » (Jo 6, 55).
17. Através da comunhão do seu corpo e sangue, Cristo comunica-nos também o seu Espírito. Escreve S. Efrém: «Chamou o pão seu corpo vivo, encheu-o de Si próprio e do seu Espírito. [...] E aquele que o come com fé, come Fogo e Espírito. [...] Tomai e comei-o todos; e, com ele, comei o Espírito Santo. De facto, é verdadeiramente o meu corpo, e quem o come viverá eternamente ».() A Igreja pede este Dom divino, raiz de todos os outros dons, na epíclese eucarística. Assim reza, por exemplo, a Divina Liturgia de S. João Crisóstomo: «Nós vos invocamos, pedimos e suplicamos: enviai o vosso Santo Espírito sobre todos nós e sobre estes dons, [...] para que sirvam a quantos deles participarem de purificação da alma, remissão dos pecados, comunicação do Espírito Santo ». (28) E, no Missal Romano, o celebrante suplica: «Fazei que, alimentando-nos do Corpo e Sangue do vosso Filho, cheios do seu Espírito Santo, sejamos em Cristo um só corpo e um só espírito ».(29) Assim, pelo dom do seu corpo e sangue, Cristo aumenta em nós o dom do seu Espírito, já infundido no Baptismo e recebido como «selo» no sacramento da Confirmação.
18. A aclamação do povo depois da consagração termina com as palavras «Vinde, Senhor Jesus », justamente exprimindo a tensão escatológica que caracteriza a celebração eucarística (cf. 1 Cor 11, 26). A Eucaristia é tensão para a meta, antegozo da alegria plena prometida por Cristo (cf. Jo 15, 11); de certa forma, é antecipação do Paraíso, «penhor da futura glória ». (30)A Eucaristia é celebrada na ardente expectativa de Alguém, ou seja, «enquanto esperamos a vinda gloriosa de Jesus Cristo nosso Salvador ». (31) Quem se alimenta de Cristo na Eucaristia não precisa de esperar o Além para receber a vida eterna: já a possui na terra, como primícias da plenitude futura, que envolverá o homem na sua totalidade. De facto, na Eucaristia recebemos a garantia também da ressurreição do corpo no fim do mundo: «Quem come a minha carne e bebe o meu sangue tem a vida eterna e Eu ressuscitá-lo-ei no último dia » (Jo 6, 54).










II. INTRODUÇÃO AOS SACRAMENTOS


1. NOSSA EXPERIÊNCIA SACRAMENTAL DE DEUS.
Não temos uma experiência e um conhecimento direto com Deus. Continuam verdadeiras as palavras de João: “A Deus ninguém jamais o viu” (1 Jo. 4.12). Para o povo hebreu, ninguém podia vei diretamente a face de Deus e permanecer vivo. (Ex.33,l4ss. Nm.6.25...). Quando Moisés pede a Deus que “mostre o seu rosto” (Ex.33,18). Deus nos ensina que, na caminhada desta vida, só o “veremos pelas costas”, depois de termos passado pelos sinais que ele deixa (cf.Ex. 33.1 8-23). Em outras palavras, só temos um conhecimento mediato, indireto, sacramental de Deus. Na eternidade, sim, o veremos “face a face, assim como ele é” (cf. Mt. 5.8; IJô. 3.2; 1 Cor. 13.12).
Deus é invisível, mas, para poder se comunicar com os homens, ele se toma sinal. Ele se faz presente na “sarça ardente” (Ex. 3.1-6). Na forma de uma “brisa suave” (1 Rs 19.13) ou no “fogo devorador que consumiu o sacrifício”... Deus manifesta sua presença de mil modos deferentes.
Na plenitude dos tempos, Deus se revela em Jesus: “Antigamente, Deus falou muitas vezes e de muitas maneiras aos nossos antepassados, por meios dos profetas, mas, nestes últimos tempos, ele nos falou através de seu Filho” (Hb. 1.1-2). Esta foi a comunicação mais perfeita de Deus aos homens. Falou através do seu Filho, que assumiu forma humana, tornou-se sinal visível e nos revelou o Deus invisível. Nele se manifesta a glória de Deus: “Quem me viu, viu o Pai” (Jo. 14.9). Mas somente Jesus contemplou a Deus seu Pai (Jo. 1.18 6.46; Ijo. 4. 12), por isso ele é para nós o “sacramento primordial de Deus”, Deus destinou Jesus como mediação para chegarmos a ele, “Ninguém vai ao pai se não por mim”. E isto que afirma Paulo quando escreve: “Não há mais que um Deus e mais que um mediador entre Deus e os homens, um homem o Messias Jesus”( 1 tm.2.5).
Cristo ressuscitado dá o Espírito Santo aos apóstolos e confia lhes o seu poder de santificação. Através dos apóstolos e de sues sucessores, a igreja, corpo de Cristo, prolonga no tempo e no espaço a presença salvadora e libertadora de Jesus entre os homens: “Eu estarei com vocês todos os dias até a consumação dos séculos” (Mt28.20). Ele pessoalmente está sempre presente na sua Igreja. Sobretudo nas celebrações dos sacramentos.
Cristo é o Sacramento Fonte, já que nesta fonte beberam os apóstolos e beberem todos aqueles que hoje seguem celebrando os sacramentos e recebem os sacramentos da Igreja...
Quando afirmamos com o Concílio Vaticano II que Cristo é o “sacramento primordial” de Deus, não apenas entendemos que os sacramentos provêm de Cristo, mas também que o agente primeiro e fundamental em cada sacramento é Deus por meio do Cristo na força do Espírito Santo. Por isso podemos dizer que, quando alguém batiza, é Cristo que batiza: quando alguém absolve, é Cristo que está absolvendo: quando um sacerdote celebra a Eucaristia: é Cristo que repete as palavras da última ceia e transforma o pão e o vinho em seu corpo e sangue.

2 O QUE SÃO OS SACRAMENTOS
O Catecismo da Igreja Católica define os sacramentos como “sinais eficazes da graça instituídos por Jesus Cristo e confiados à Igreja através dos quais nos é dispensada a vida divina”
Os sacramentos são sinais visíveis, palpáveis, naturais ou convencionais, instituídos por Jesus Cristo, que produzem a graça de Deus invisível. Mediante estes sinais (coisas, gestos, palavras) e por força do Espírito Santo, concretiza aqui e agora a presença salvadora de Jesus Cristo.
Os sacramentos cristãos englobam os grandes temas da vida espiritual do homem: o nascimento, o crescimento, renascimento espiritual, alimentação, comunhão com Deus e com os outros, purificação, cura e a santificação dos estados de vida. Em cada sacramento deus está agindo e se deixando encontrar em nossa história.
No Batismo, Deus se faz presente como Pai que satisfaz todas as aspirações do coração dos filhos. E na paternidade de Deus somos chamados para sermos irmãos.
Na Crisma, Deus se faz presente como impulsionador, como alma, como alguém único por quem vale a pena entregar a própria vida. Deus cresce em nós.
Na Eucaristia, Deus se faz alimento e salvação através do sacrifício de seu Filho. E a prova do amor feito salvação.
Na Reconciliação, Deus se torna presente com toda a sua bondade e perdão.
Na Ordem, Deus, se toma salvação distribuída à humanidade. Deus se derrama pelas as mãos dos sacerdotes na vida dos homens.
O Matrimônio é Deus sendo vivido no amor. E Deus salvando o mundo na família e pela família.
A unção dos enfermos é Deus que salva no sacrifício da dor. Deus participando da nossa luta.

3 OS SACRAMENTOS SÃO SINAIS
O sacramento é antes de tudo um sinal. Sinal é toda coisa que nos leva ao conhecimento de outra coisa. Ou na linguagem técnica: “E a união de um significante com um significado”.
A função característica de todo sinal é significar, remeter, levar, ser ponte entre uma coisa e outra, tornou presente outra realidade.
Um sinal é assim denominando porque tem determinada significação para quem o emite e para quem o recebe. E sinal de alguém para outrem.
Quando uma coisa fica carregada de significado, diremos que ela se tornou simbólica. E um símbolo.
A “palavra “símbolo,” de origem grega, quer dizer “reunir”, “ajuntar” de novo”, “reconstruir”. Os povos antigos, quando celebravam um contrato ou um acontecimento importante, costumavam dividir um objeto em pedaços que eram dados às diversas pessoas que participaram do acontecimento. Era uma prova de compromisso assumido ou uma recordação especial de um evento.
Por isso, os pedaços eram guardados como uma relíquia, e serviam como sinal de reconhecimento, porque podia-se juntar de novo e reconstruir o objeto quebrado. Assim, as pessoas podiam reconhecer e lembrar acontecimentos importantes e renovar seus compromissos.

• OS SINAIS PODEM SER NATURAIS, CONVENCIONAIS E EXISTENCIAIS.
a) Sinais naturais: São aqueles que comunicam pela sua própria natureza. Provém da própria natureza das coisas. Vejo ao longe fumaça subindo ao céu. Posso não ver o fogo, mas digo sem dúvida: “Lá tem fogo”. A fumaça anuncia a presença do fogo.
Estou andando numa noite escura e escuto um latido. Posso não ver o cachorro, mas tomo consciência de sua existência.
Estou caminhando num mato e vejo no chão as pegadas de um animal. Não vejo o animal, mas, se sou bom caçador, posso identificar o animal que passou por ali.
Se vejo um rosto cheio de lágrimas num velório, não preciso perguntar se a pessoa está triste. Mas, se essas lágrimas caem num reencontro de duas pessoas que se amam, está claro que elas manifestam alegria.
b) Sinais convencionais: Seu significado é estabelecido por convenção humana. Eles podem ser palavras, gestos, objetos. Par que aja perfeita compreensão, é essencial que osinterlocutores conheçam as convenções estabelecidas.
Os surdos se comunicam através de gestos convencionais. Há toda uma mímica convencionada. Os gestos podem substituir as palavras. Quando, num posto de gasolina, abrimos as duas mãos mostrando os dez dedos, o frentista compreende que queremos dez reais de gasolina.
As palavras são sinais convencionais que só são entendidos pelos que falam a mesma língua.
 A cometa é um instrumento de música, mas, gravada na lâmina de uma faca, indica a marca de sua fabricação. A seta é uma arma mortal nas mãos de um arqueiro, mas transforma-se um sinal de orientação nas estradas e cidades.
A Bandeira não passa de um pedaço de pano, mas em sua defesa e honra chega-se a sacrificar a própria vida, porque ela representa a Pátria. Letras não passam de rabiscos sobre o papel. Porém, por convenção, exprimem pensamentos, sentimentos, quando devidamente agrupados em palavras e frases.
c) Sinais existenciais: brotam do nosso relacionamento com as coisas. A nossa convivência com as pessoas e coisas tornam-nas significativas, cheias de histórias para contar.
João e Maria amavam-se profundamente e se separaram. Não vão mais ver um no outro. Mas João dia a Maria que “nem adianta tentar esquecê-lo”, porque ainda por muito tempo em sua vida ele vai estar presente e vivo. De que forma? Através de pequenos “detalhes”, pequenas coisas, que vão tomá-lo presente na vida de Maria. Estes “detalhes” são os “sinais existenciais” dele. São sacramentais, pois são sinais que evocam que provocam a presença de João. São coisas que “falam” dele.

O CONVÍVIO DO SER HUMANO COM A REALIDADE PASSA POR ESTES TRÊS NÍVEIS
a) No começo sentimos estranhamento: as coisas causam espanto, admiração, temor.
b) À medida que vamos convivendo com a realidade, as surpresas vão sendo substituídas pelas certezas. Entra o domínio da domesticação: o homem jádomina o que lhe causava estranhamento.
c) Por fim, o homem habitua-se aos objetos Mora nos objetos e estes moram nele Eles tornam-se mais que merosobjetos, pois começam a falar e a contar historias São evocativos Transfiguram-se em sacramentos, isto e, sem deixar de ser o que são, evocam, provocam e convocam para o outro mundo, o mundo das recordações e vivenciais profundas.
Exemplos de sinais existenciais é a nossa terra natal, a casa em que passamos nossa infância. Todos os sacramentos são sinais e ações significativas que contêm três elementos:
a) Coisas: escolhidas entre as mais comuns e usuais na vida diária: água, azeite, pão, vinho.
b) Gestos também simples e comuns: lavar, comer, beber, derramar azeite, ungir, impor as mãos...
c) Palavras: explicam os sentidos dos gestos, mostram que os sacramentos são ações eficazes do próprio Deus. Para mostrar que é Deus quem age, as palavras são pedidos, invocações e declarações de um ato: “Eu te batizo em nome do pai...”.“Tomai e comei...”“Recebe por este sinal o dom do espírito santo...”.

4. SACRAMENTAIS
O que são sacramentais? “São sinais sagrados por meio dos quais, de certo modo à imitação dos sacramentos, são significados e, por impetração da Igreja, são obtidos efeitos principalmente espirituais”.
Podemos dividir os sacramentais em:
• Sacramentais-coisas: água benta, velas bentas, ramos de palmeira bentos, cinzas bentas no começo da quaresma, santinhos, medalhas, imagens etc.


• Sacramentais-ações: consagrações (profissão religiosa, consagração das virgens, dedicação de uma igreja etc.), bênçãos (da água, da criança, dos doentes, dos campos, dos utensílios, da casa etc.) exorcismos.
O povo dá um grande valor aos sacramentos. Basta observar a sua presença nas igrejas nas quarta-feira de cinzas, no dia de São Brás, para benzer a garganta, no domingo de ramos, nas celebrações especiais para os doentes etc. Também os sacramentos que o povo pede são vistos, muitas vezes, mais sob o prisma de sacramentais do que de sacramentos. Assim, a Eucaristia é muitas vezes uma forma de rezar por um defunto, o que é depois completado acendendo-se uma veia e levando flores para a sepultura. O batismo, muitas vezes é pedido “para que a criança não morra”, “seja protegida”. À Unção dos enfermos às vezes é pedida porque o doente “não quer morrer” e se espera que depois o Senhor o leve consigo.
Podemos até dizer que, para o povo mais simples, os sacramentais são mais valiosos do que os sacramentos. Podemos também fazer nossa a observação do teólogo K. Rahner de que a maior parte da humanidade se salva à margem da Igreja oficial, e a maior parte dos que estão na Igreja chega a Deus mais pelos sacramentais do que pelos sacramentos.




IV. A EUCARISTIA — SACRAMENTO DE AMOR

1. A sagrada Eucaristia é mistério defé sacrifício e sacramento. E durante o santo sacrifício da missa que o pão e o vinho são transubstanciados, eucaristiados, para serem nosso alimento espiritual. E, enquanto o sacrifício da missa destina-se primordialmente à glorificação de deus, o sacramento da eucaristia visa diretamente à santificação das nossas almas.
Após a santa missa, as sagradas espécies, sobretudo o pão eucaristiado, são conservadas nos sacrários de nossas igrejas e capelas: elas são adoradas, com o culto de iatria (adoração), e são destinadas a prolongar entre os fiéis as graças do santo sacrifício da missa.
2. A comunhão eucarística faz parte integrante do santo sacrifício da missa; por isso, é imprescindível que o sacerdote celebre, repetindo as palavras e os gestos de Jesus Cristo na ultima ceia, consagre e transubstancie o pão e o vinho, comungando-os em seguida como também é conveniente que todos os fiéis que participam da santa missa, que é um banquete eucarístico, recebam também a sagrada comunhão — novo maná (Deuteronômio 8,3), manjar divino, “pão vivo descido do céu” João 6,51).
3. A Pessoa divina de Jesus Cristo, Verbo encarnado, glorioso no céu, não pode ser dividida:onde está seu corpo, está também seu sangue, e vice-versa; tanto sob a espécie de pão quanto sob a espécie de vinho, estão corpo, sangue, alma e divindade de nosso Senhor Jesus Cristo, por isso não é necessário receber sempre essas duas espécies, pão e vinho, porque Jesus está integralmente presente e multiplica-se, inteiro, como está no céu, em cada hóstia consagrada, em cada gota de vinho eucaristiado, em todos os altares e sacrários do mundo.
Embora hoje, por motivo de conveniência prática, a Igreja Latina dê a comunhão eucarística aos fiéis mais frequentemente sob a espécie de pão (em algumas circunstâncias e comemorações especiais, também sob a espécie de vinho), contudo, até o século XVI, a comunhão eucarística, embora não fosse tão frequente como ocorre em nossos dias, era dada habitualmente sobe as duas espécies: de pão e vinho.
4. Com exceção da Imaculada Virgem Maria, Mãe de Deus, ninguém é digno de comungar a sagrada Eucaristia. Esta, entretanto, não é prêmio, mas alimento necessário, medicina imprescindível; por isso, deve ser recebida com frequência; se possível, diariamente, durante o santo da missa, como também pelas crianças que já atingiram o uso da razão.
Só as pessoas que estiverem verdadeiramente em pecado mortal é que não podem receber esse Santíssimo Sacramento, para o qual deve-se observar o jejum eucarístico, que consiste em abster-se de alimento sólido e liquido (a água não quebra o jejum) pelo período de uma hora, a contar não do início de missa, mas do momento em que vai comungar.
5. São maravilhosos os efeitos e frutos da sagrada comunhão eucarística, pois dessa íntima e física união com o corpo, sangue, alma e divindade de nosso Senhor Jesus Cristo sacramentado, as nossas almas, quando bem preparadas para receber a sagrada eucaristia, crescem na vida espiritual, tem aumentada em si a graça santificante, são preservadas do mal, das tentações do demônio e dos pecados, e progridem no caminho do amor a Deus eao próximo, consolidando a caminhada no bem, na santificação e na salvação própria e do próximo.
E quando, consumidas as espécies do pão e do vinho, Jesus Cristo não estiver mais sacramentalmente presente dentro de nós, ele continuará conosco espiritualmente, em nossa alma. Assim após a comunhão eucarística, conosco permanecerão espiritualmente unidos a nós, o Pai, o Filho e o Espírito Santo, e permanecerão em nós enquanto nós, por um pecado grave, se não os expulsarmos de nossa alma.

V. EVANGELIZAÇÃO E SACRAMENTALIZAÇÃO.
1. Em suas celebrações litúrgicas e paralitúrgicas, a Igreja do senhor Jesus sempre cuida de que uma adequada evangelização prepare os fies e os predisponha para uma digna e frutuosa recepção dos santos sacramentos, ou seja, é preciso que uma oportuna catequese geral e sacramental leve o cristão a receber com piedade, esclarecida o fruto dos santos sacramentos da fé.
2. Assim procedendo, a Igreja do senhor Jesus não fa outra coisa senão cumprir a solene ordem que o Cristo Ressuscitado, antes da sua gloriosa ascensão ao céu, deixou recomendada aos seus apóstolos: “Ide pelo mundo inteiro! Pregai o Evangelho a todos os homens. Balizai-os todos em nome do Pai, do Filho, e do Espírito santo” (Mateus 28,19)
Notem-se as palavras-chave dessa perícope bíblica: pregai — é a evangelização, o querigma, a catequese geral e sacramental; batizai — é a sacramentalização, é o sacramento como plenitude da evangelização.
3. Essa vinculação entre evangelização e sacramentalização acha-se enfatizada pelo próprio Concílio Ecumênico Vaticano II no seu primeiro documento oficial SacrosanctumConcilium sobre a sagrada litúrgica: “Os sacramentos têm por fim santificar os homens, edificar o corpo de Cristo; enfim, prestar culto a Deus. Porém, a título de sinais, eles tem igualmente um papel de ensino e catequese. Não somente supões a fé, como também pelas palavras e pelas coisas, eles a alimentam, fortificam e exprimem; é por isso que se denominam sacramentos da fé” (SC,59).
Sem um sólido apoio da catequese global e sacramental, os fiéis poderão passar a receber os sacramentos de uma forma rotineira, como que por hábito, sem aproveitar devidamente a sua eficácia transformadora e santificadora.
4. “Em primeiro lugar, vem o anúncio do Evangelho; a apresentação da Boa Nova cristã:depois e’ que vêm os sacramentos”, diz o diretório dos sacramentos, p.79.
Ainda com relação especifica ao sacramento da eucaristia, eis uma outra enfática recomendação: “Doravante, a distribuição da comunhão estará inserida numa celebração da palavra de Deus... de modo que nunca se receba o pão eucarístico sem antes ter provado o pão da palavra” (A sagrada Comunhão e o culto do mistério eucarístico fora da missa,5.
5. Na santa missa — culto litúrgico por excelência de louvor, adoração e súplica a Deus — a Igreja do Senhor Jesus oferece aos fiéis a evangelização e a sacramentalização, ou seja, o Evangelho da palavra de Deus e o sacramento do corpo do Senhor. “As duas que partes que constituem, de algum modo, a missa — isto é a liturgia da palavra e a liturgia eucarística estão tão intimamente ligadas entre si que formam um só ato de culto. Ninguém deve aproximar-se da mesa do pão do Senhor sem antes ter estado presente à mesa de sua palavra”(InstruçãoInestimabiledominum sobre algumas normas relativas ao culto da Santíssima Eucaristia, n. I, 1980).
De todas essas orientações e recomendações da Igreja do Senhor Jesus e do Concilio Ecumênico Vaticano II, chega-se facilmente à seguinte conclusão bem prática: a evangelização — ou seja a catequese global e a catequese à seguinte conclusão bem prática: a evangelização — ou seja a catequese global e a catequese sacramental — deve sempre preceder a sacramentalização, preparando os fiéis e predispondo-os para uma digna e frutuosa recepção dos santos sacramentos da Igreja de Deus.



ECCLESIA DE EUCHARISTIA

CAPÍTULO II
A EUCARISTIA EDIFICA A IGREJA


21. O Concílio Vaticano II veio recordar que a celebração eucarística está no centro do processo de crescimento da Igreja. De facto, depois de afirmar que «a Igreja, ou seja, o Reino de Cristo já presente em mistério, cresce visivelmente no mundo pelo poder de Deus »,() querendo de algum modo responder à questão sobre o modo como cresce, acrescenta: «Sempre que n& altar se celebra o sacrifício da cruz, no qual “Cristo, nossa Páscoa, foi imolado” (1 cor 5, 7), realiza-se também a obra da nossa redenção. Pelo sacramento do pão eucarístico, ao mesmo tempo é representada e se realiza a unidade dos fiéis, que constituem um só corpo em Cristo (cf. 1 Cor 10, 17) ».(36)
Existe um influxo causal da Eucaristia nas próprias origens da Igreja. Os evangelistas especificam que foram os Doze, os Apóstolos, que estiveram reunidos com Jesus na Ultima Ceia (cf. Mt 26, 20; Mc 14, 17; Lc 22, 14). Trata-se de um detalhe de notável importância, porque os Apóstolos «foram a semente do novo Israel e ao mesmo tempo a origem da sagrada Hierarquia ». (37) Ao oferecer-lhes o seu corpo e sangue como alimento, Cristo envolvia-os misteriosamente no sacrifício que iria consumar-se dentro de poucas horas no Calvário. De modo análogo à aliança do Sinai, que foi selada com um sacrifício e a aspersão do sangue,(38) os gestos e as palavras de Jesus na Última Ceia lançavam os alicerces da nova comunidade messiânica, povo da nova aliança.
No Cenáculo, os Apóstolos, tendo aceite o convite de Jesus: «Tomai, comei [...]. Bebei dele todos» (Mt 26, 26.27), entraram pela primeira vez em comunhão sacramental com Ele. Desde então e até ao fim dos séculos, a Igreja edifica-se através da comunhão sacramental com o Filho de Deus imolado por nós: «Fazei isto em minha memória [...J. Todas as vezes que o beberdes, fazei-o em minha memória» (1 Cor 11, 24-25; cf. Lc22, 19).
22. A incorporação em Cristo, realizada pelo Baptismo, renova-se e consolida-se continuamente através da participação no sacrifício eucarístico, sobretudo na sua forma plena que é a comunhão sacramental. Podemos dizer não só que cada um de nós recebe Cristo, mas também que Cristo recebe cada um de nós. Ele intensifica a sua amizade conosco:(Chamei-vos amigos» (Jo 15, 14). Mais ainda, nós vivemos por Ele: «O que Me come viverá por Mim» ([o 6, 57). Na comunhão eucarística, realiza-se de modo sublime a inabitação mútua de Cristo e do discípulo: «Permanecei em Mim e Eu permanecerei em vós» (Jo 15, 4).
Unindo-se a Cristo, o povo da nova aliança não se fecha em si mesmo; pelo contrário, torna-se « sacramento» para a humanidade,(39) sinal e instrumento da salvação realizada por Cristo, luz do mundo e sal da terra (cf. Mt 5, 13-16) para a redenção de todos. (40) A missão da Igreja está em continuidade com a de Cristo: «Assim como o Pai Meenviou, também Eu vos envio a vós» Jo 20, 21). Por isso, a Igreja tira a força espiritual de que necessita para levar a cabo a sua missão da perpetuação do sacrifício da cruz na Eucaristia e da comunhão do corpo e sangue de Cristo. Deste modo, a Eucaristia apresenta- se como fonte e sim4taneamente vértice de toda a evangelização, porque o seu fim é a comunhão dos homens com Cristo e, n’Ele, com o Pai e com o Espírito Santo. (41)
23. Pela comunhão eucarística, a Igreja é consolidada igualmente na sua unidade de corpo de Cristo. A este feito unificador que tem a participação no banquete eucarístico, alude S. Paulo quando diz aos coríntios: « O pão que partimos não é a comunhão do corpo de Cristo? Uma vez que há um só pão, nós, embora sendo muitos, formamos um só corpo, porque todos participamos do mesmo pão» (1 Cor 10, 16-17). Concreto e profundo, S. João Crisóstomo comenta: «Com efeito, o que é o pão? E o corpo de Cristo. E em que se transformam aqueles que o recebem?No corpo de Cristo; não muitos corpos, mas um só corpo. De facto, tal como o pão é um só apesar de constituído por muitos grãos, e estes, embora não se vejam, todavia estão no pão, de tal modo que a sua diferença desapareceu devido à sua perfeita e recíproca fusão, assim também nós estamos unidos reciprocamente entre nós e, todos juntos, com Cristo ».(4) A argumentação é linear: a nossa união com Cristo, que é dom e graça para cada um, faz com que, n’Ele, sejamos parte também do seu corpo total que é a Igreja. A Eucaristia consolida a incorporação em Cristo operada no Baptismo pelo dom do Espírito (cf. 1 Cor 12, 13.27).
A ação conjunta e indivisível do Filho e do Espírito Santo, que está na origem da Igreja, tanto da sua constituição como da sua continuidade, opera na Eucaristia. Bem ciente disto, o autor da Liturgia de S. Tiago, na epíclese da anáfora, pede a Deus Pai que envie o Espírito Santo sobre os fiéis e sobre os dons, para que o corpo e o sangue de Cristo « sirvam a todos os que deles participarem [...J de santificação para as almas e os corpos ».(4) A Igreja é fortalecida pelo Paráclito divino através da santificação eucarística dos fiéis.
24. O dom de Cristo e do seu Espírito, que recebemos na comunhão eucarística, realiza plena e sobreabundanternente os anseios de unidade fraterna que vivem no coração humano e ao mesmo tempo eleva esta experiência de fraternidade, que é a participação comum na mesma mesa eucarística, a níveis que estão muito acima da mera experiência dum banquete humano. Pela comunhão do corpo de Cristo, a Igreja consegue cada vez mais profundamente ser, «em Cristo, como que o sacramento, ou sinal, e o instrumento da íntima união com Deus e da unidade de todo o gênero humano ».(44)
Aos germes de desagregação tão enraizados na humanidade por causa do pecado, como demonstra a experiência quotidiana, contrapõe-se a força geradora de unidade do corpo de Cristo. A Eucaristia, construindo a Igreja, cria por isso mesmo comunidade entre os homens.
25. O culto prestado à Eucaristia fora da Missa é de um valor inestimável na vida da Igreja, e está ligado intimamente com a celebração do sacrifício eucarístico. A presença de Cristo nas hóstias consagradas que se conservam após a Missa — presença essa que perdura enquanto subsistirem as espécies do pão do vinho (45) — resulta da celebração da Eucaristia e destina-se à comunhão, sacramental e espiritual. (46)Compete aos Pastores, inclusive pelotestemunho pessoal, estimular o culto eucarístico, de modo particular as exposições do Santíssimo Sacramento e também as visitas de adoração a Cristo presente sob as espécies eucarísticas. (47)
É bom demorar-se com Ele e, inclinado sobre o seu peito como o discípulo predileto (cf. Jo 13, 25), deixar-se tocar pelo amor infinito do seu coração. Se atualmente o cristianismo se deve caracterizar sobretudo pela «arte da oração »,(4) como não sentir de novo a necessidade de permanecer longamente, em diálogo espiritual, adoração silenciosa, atitude de amor, diante de Cristo presente no Santíssimo Sacramento? Quantas vezes, meus queridos irmãos e irmãs, fiz esta experiência, recebendo dela força, consolação, apoio!
Desta prática, muitas vezes louvada e recomendada pelo Magistério,49) deram- nos o exemplo numerosos Santos. De modo particular, distinguiu-se nisto S. Afonso Maria de Ligório, que escrevia: « A devoção de adorar Jesus sacramentado é, depois dos sacramentos, a primeira de todas as devoções, a mais agradável a Deus e a mais útil para nós ».(50) A Eucaristia é um tesouro inestimável: não só a sua celebração, mas também o permanecer diante dela fora da Missa permite-nos beber na própria fonte da graça. Uma comunidade cristã que queira contemplar melhor o rosto de Cristo, segundo o espírito que sugeri nas cartas apostólicas Novo mi/lennioineunte e RosariumVirginisMariae, não pode deixar de desenvolver também este aspecto do culto eucarístico, no qual perduram e se multiplicam os frutos da comunhão do corpo e sangue do Senhor.

Carta Encíclica
Ecclesia de eucaristia
Paulinas — São Paulo, 2003 - pág.29 à 36.





MINISTRO DA EUCARISTIA: CRISTÃO EM CONVERSÃO

Nesta conversa vamos refletir sobre a conversão. O ministro da Eucaristia precisa ser, de forma parucular e especial, um cristão em “estado permanente de conversão”, em processo de salvação, de redenção e de santificação. O ministro da Eucaristia precisa ser, portanto, uma pessoa em “processo permanente” de libertação, de cura espiritual, de cura psicológica e de cura emocional. Precisa ser uma pessoa que busca permanentemente uma conversão maior do seu ser interior, ou seja, a conversão do seu coração.
Exatamente por ser ministro de Jesus salvador e, por meio do seu ministério, ser um agente de salvação para seus irmãos, o ministro da Eucaristia1 deve ser um cristão em conversão constante e dinâmica. Como ministro, deve procurar ser santo, como é santo aquele a quem celebra na santa Missa, recebe na Comunhão, e a quem serve por meio do seu ministério.
O Pai celeste nos diz: “Sede santos, como eu, vosso Pai, sou Santo”. Jesus pode assumir as palavras de seu Pai e pode dizer ao ministro da Eucaristia: “Seja. santo, porque eu sou santo!” Lembre-se que nós chamamos a Eucaristia de “Santíssimo Sacramento”. O que equivale a dizer: “Santíssimo Jesus”, presente no sinal sacramental.
Na verdade, porque você é humano como todos os demais seres humanos, também experimenta a amargura do pecado, dos problemas e das dificuldades de viver a sua vida cristã. Você também está marcado pelo pecado das origens e por suas consequências tão desagradáveis. E também está marcado por acontecimentos dolorosos de sua história. Sofrimentos estes que aconteceram algum dia em sua vida e que deixaram marcas dolorosas. Você também está marcado por consequências de sua vida vivida neste mundão terrível e perverso. Portanto, também você está sujeito às garras do mal e do pecado. E exatamente por isso, como ministro do Deus Santíssimo, é preciso que você assuma uma postura permanente de conversão. Mias, de uma conversão cada vez mais profunda, a fim de poder testemunhar que Jesus santíssimo é verdadeiramente um poderoso salvador, e que a sua salvação efetivamente pode acontecer em todos, como ela está acontecendo em você, em sua vida pessoal.


QUE É CONVERSÃO?
A palavra “conversão”, “converter-se”, significa “voltar-se para”. Conversão, no sentido religioso, significa “voltar-se cada vez mais para Deus”. Voltar-se para Deus, a fim de estar em relacionamento e amizade cada vez mais profunda com ele, para que possa agir em sua vida. E para que essa ação divina liberte, perdoe, cure, transforme cada vez mais a sua pessoa, embelezando-a sempre mais com a beleza da santidade.
Converter-se é voltar-se para Deus de todo coração. Na Bíblia, Deus muitas vezes chama à conversão, dizendo: “Retorna para mim. Retorna para mim de todo teu coração. Volta-te para mim. Volta-te para mim de todo teu coração” (cf. Jl 2,12-14; Os 14,1-3).
Há uma verdade, infelizmente lamentável, que nos diz respeito. O nosso coração humano, por causa do pecado das origens, não é tão inclinado a estar totalmente voltado para Deus. Infelizmente. Nosso coração não sente natural e espontaneamente “sede e fome de Deus”. Não sente forte desejo de estar sempre com Deus. Pelo contrário. Há muitas vezes dentro de nós buscas daquilo que é exatamente contrário a Deus. Percebemos claramente que o nosso coração não está totalmente voltado para Deus. Está voltado, sim, para o egoísmo, o orgulho, a gula, a inveja, a sensualidade, a preguiça, o materialismo, a ganância, enfim, para tantas tendências que não são boas, que não são de Deus e não levam para Deus.
Exatamente por causa dessa realidade Deus chama: “Volta para mim de todo teu coração”. Deus nos chama porque nos ama. Deus nos chama porque sabe que é nele que encontramos a felicidade com que sonhamos. Deus nos chama porque sabe que só ele pode preencher o grande vazio do nosso coração. Deus nos chama porque sabe que só nele encontramos a plenitude do nosso coração. E por isso que Santo Agostinho exclamou: “Fizestes-nos para vós, ó Deus! E nosso coração anda irrequieto, insatisfeito, enquanto não repousar em vós!
Esse “voltar o coração para Deus”, esse “direcionar o nosso coração para Deus”, cada vez mais profundamente, é um processo de urna vida toda. Enquanto caminhamos neste mundo, mesmo que vivamos cem anos, nós não teremos o nosso coração cem por cento voltado para Deus. Aliás, o último momento de nossa conversão ainda precisa ser o purgatório. Enquanto vivemos, Deus continua chamando: “Volta para mim! Volta para mim de todo teu coração” Permita-me dizer uma verdade que toca a todo ministro da Eucaristia. Para alguém que chegou a ser ministro da Eucaristia, conversão não deveria ser um “sair do pecado para entrar na graça”; conversão não deveria ser entendida como uma “saída do caminho das trevas para a entrada no caminho da luz”. Para um ministro de Jesus santíssimo a conversão deve consistir, sim, em “dar passos de crescimento” no processo de inclinar o coração sempre mais para Deus. Para um ministro, conversão deve significar: “passar do regular para o bom, do bom para o melhor, do melhor para o ótimo, e do ótimo para o superótimo. Conversão significa “buscar a perfeição” em tudo o que se faz. Viver e fazer tudo com perfeição crescente.
Para o ministro, conversão deve significar: lançar-se cada vez mais no amor de Deus Pai, a fim de amá-lo, de deixar-se amar por ele e de conviver cada vez mais profundamente com ele. Conversão significa: crescer no relacionamento com o Pai.Mais. Para o ministro, conversão deve significar um lançar-se de todo coração para conquistar o amor de Jesus, pois ele já nos conquistou. Aliás, como dizia São Paulo: “Eu me lanço sempre mais para frente, a fim de conquistar Jesus, já que eu já fui plenamente conquistado por ele” (Vi 3,12). Conversão é crescer no relacionamento pessoal com Jesus ressuscitado, convivendo com ele cada vez melhor, acolhendo cada vez mais a sua palavra, o seu evangelho, a sua Igreja e os seus sacramentos, bem como comungando-o cada vez mais consciente e profundamente. Converter-se é melhorar, aprofundar e fazer crescer o relacionamento pessoal diário com Jesus ressuscitado.
Converter-se é, ainda, lançar-se na busca e posse do Espírito Santo. E procurar conhecer, amar, apropriar-se sempre mais do Espírito Santo. E ficar cada vez mais cheio, batizado no Espírito Santo. Conversão, para o ministro, não é, antes de tudo, sair do pecado cometido contra o Espírito Santo a fim de iniciar uma amizade com ele. Ao contrário, para o ministro da Eucaristia, a conversão consiste em crescer cada vez mais no acolhimento do Espírito Santo. Conversão significa “um abrir-se” ao Espírito, para que ele possa realizar cada vez mais a sua obra de santificação.
Converter-se é também, evidentemente, voltar-se cada vez mais para o amor dos irmãos. E abrir o coração para comungai junto com Jesus, todos os irmãos, a fim de amá-los cada vez mais.
Para um ministro que é marido, converter-se é amar ainda mais. sempre mais, sua esposa. Ser sempre mais carinhoso, compreensivo.bondoso, gentil e acolhedor. E sair sempre mais do seu egoísmo, para fazer a esposa e os filhos mais felizes, mais satisfeitos, mais contentes, belos e saudáveis.
Para uma ministra que é esposa, conversão significa cultivar sempre mais seu amor para com o marido, a fim de querê-lo cada vez mais, de servi-lo melhor, de santificá-lo mais, de ser mais companheira, mais carinhosa, mais prestativa, amável e amante.
Para ministros que são pais, conversão significa amar cada vez mais os seus filhos, genros, noras e netos, a fim de querê-los mais, orientá-los cada vez mais e me1hoi para que sejam bons e felizes.
Converter-se é amar sempre mais a todas as pessoas que passam pelo caminho de sua vida, principalmente em seu ministério eucarístico.
Converter-se é assumir ainda mais responsavelmente o seu ministério, para fazer com que Jesus salvador, por meio de você, possa entrar na vida das pessoas, a fim de transformá-las, convertê-las, curá-las, libertá-las e santificá-las.
Converter-se é abrir ainda mais o coração com sentimentos de profunda compaixão, para socorrer os desempregados, para fazer alguma coisa significativa pelas crianças de rua, para redimir, salvar e promover as prostitutas, os drogados, os homossexuais, as lésbicas, os aidéticos e todos os demais necessitados de socorro e auxílio. Converter-se, enfim, é aumentar a capacidade de amar a todos, assim como Jesus os ama, e da forma como ele os ama.
Converter-se, portanto, é dar passos de crescimento. É dar passos de mudanças para melhor É dar passos de crescimento na caminhada de salvação e de santificação.
Jesus está chamando!... Está chamando você à conversão. Ele está clamando: “Volta para mim de todo teu coração. Olha para aquilo que, em ti, ainda não está bem, e volta para mim! Eu posso te tocar, te libertar, te perdoai te salvar e curar”. Jesus está chamando. Está chamando, pois ele quer que você, mino dele, seja um pouco mais santo, como ele é santo.
Jesus está chamando. Ele quer ser muito mais importante para você. Quer ser uma presença muito mais viva em sua vida e em seu ministério.

OBSTÁCULOS À CONVERSÃO.
Na verdade, na busca de conversão, você encontra três grandes barreiras, três grandes obstáculos. O primeiro obstáculo é o pecado das origens, o pecado original. São aquelas tendências fortes, negativas, que se encontram dentro de você e que o chamam e querem induzi-lo ao mal, ao pecado.
Referindo-se a estas tendências negativas, São Paulo as chama de “homem velho”. Poder-se-ia acrescentar: “mulher velha”. Ao homem velho e à mulher velha, Paulo opõe o “homem novo” e a “mulher nova”.
O que é, em você, o homem velho, ou a mulher velha? Homem velho, mulher velha, são as tendências más enraizadas profundamente dentro de você. São tendências negativas que puxam, chamam para o vício, para o erro, para o mal, para o pecado. Tais tendências chamam com tal insistência, a ponto de chegar, às vezes, a fazer gemer, a fazer sentir-se arrastado, e a ter que reclamar, como Paulo, que dizia:“Puxa vida! Não consigo fazer o bem que eu quero fazer! E acabo fazendo o mal que eu não quero fazer!” Por que Paulo sentia tal contradição? Porque dentro dele e de todos nós há um chamativo, uma força que chama para o mal. São as garras do pecado das origens que constantemente chamam para o mal, para o pecado. São as vozes do orgulho, do ciúme, da inveja, da vaidade, da preguiça, da maledicência., da fofoca, da mentira, da gula, da sensualidade, do erotismo etc. que gritam no profundo do ser humano. Essas tendências chamam, impulsionam, reclamam dentro de você também, ministro da Eucaristia. Você as percebe mesmo que não as queira, e acaba sendo puxado, arrastado, induzido para o vício, para o mal, para o pecado. Quem já não experimentou essa realidade?
O segundo tipo de obstáculos que dificulta o processo de conversão é a sua história pessoal. Pode ter acontecido que a sua história tenha sido marcada por sofrimentos no relacionamento com o pai, com a mãe, com os irmãos ou parentes, com professores, ou outras pessoas. Esses sofrimentos podem ter ocorrido na adolescência, na juventude, na vida adulta, no namoro, no noivado ou no matrimônio. Pode ter acontecido também que, antes de conhecer Jesus e os seus ensinamentos, você andou por caminhos errados, cometeu muitos pecados, andou pelos caminhos dos vícios. Por causa dessa vida desordenada, você carrega marcas dolorosas, raízes de mal e de pecado que talvez ainda o estejam perturbando, prejudicando e seduzindo para o mal. Pode ocorrer que você já tenha confessado o pecado e já tenha sido perdoado. Mas as consequências do pecado ainda podem estar perdurando e dificultando o seu desejo de lançar-se de todo coração em direção a Deus, a fim de ter urna comunhão muito mais profunda e forte com ele e com seus irmãos.
O terceiro obstáculo à nossa conversão é o “rnundão” que está em seu derredor. O mundão no qual vive é tão perverso que constantemente o quer arrastar por seus caminhos de vícios. de misérias e pecados. Em nosso tempo, e em nosso país, os piores vícios e os mais vergonhosos pecados são publicados por todos os meios de comunicação. Pior é que os glorificam como se fossem belas virtudes! Ao mesmo tempo, as virtudes humanas e cristãs são hoje pichadas e debochadas, como se fossem graves vícios. Você sabe que é assim. Por exemplo. Em nosso tempo se glorifica e exalta o adúltero e o adultério. Ao passo que a fidelidade matrimonial é debochada e até ridicularizada, O homem e a mulher fiéis são ridicularizados São considerados corno “trouxas”. A virgindade e a castidade dos jovens são debochadas e ridicularizadas. Ao passo que os meios de comunicação e a sociedade dominante glorificam as relações sexuais de todo tipo, antes do casamento, e procuram convencer os jovens que tais pecados são uma prática normal, sadia e correta. Em nosso tempo o lesbianisnio e o homossexualismo são glorificados e exaltados. Hoje o homem honesto nos negócios é chamado de tolo. E os trapaceiros são considerados como espertos, e são valorizados. Poderia dar ainda muitos exemplos dessa perversidade do mundão e da sociedade em que você vive. Pior é que tudo isso pode exercer uma certa influência sobre você, convencendo-o que o pecado virou virtude. Que o mal agora é um bem. Que a mentira é uma verdade a ser seguida. E tudo isso pode impedir ou dificultar uma conversão muito mais forte e profunda para Deus e para o amor dos irmãos.
Mesmo vivendo em meio a todos esses obstáculos, você é chamado a viver uma conversão permanente ao seu Deus, à sua verdade e à sabedoria da vida cristã. Para converter-se é preciso, portanto, trabalhai; buscar, lutar. Antes de tudo é preciso trabalhar dentro de você com a força da graça de Deus. Saiba que a conversão é muito mais fruto e produto da graça de Deus do que do seu esforço solitário. Vale a pena lembrar o texto de Ezequiel 36,24.30. Nele, Deus diz:“Eu tirarei do vosso peito o coração de pedra. Eu vos darei um novo coração. Eu vos darei um coração de carne. Eu vos darei um espírito novo, para que cumprais as minhas leis e obedeçais aos meus preceitos”. Percebeu? Quem é que faz o transplante do coração? Quem tira o velho coração de pedra e coloca no peito um novo coração e um novo espírito? E ele! Deus! Eu diria: “E Jesus salvador, pela ação do Espírito Santo”, para glorificar o Pai celeste.
Com certeza você mesmo poderia testemunhar como “um toque da graça de Deus” foi suficiente para mudar muitas coisas em sua vida, ou na vida de algum conhecido seu. Talvez eram mudanças que por muitos anos você procurava e queria realizar, mas não conseguia.É preciso estar certo de que a sua conversão pessoal depende muito da ajuda de Jesus. Para converter-se, você precisa da graça de Deus. Por isso, pode afirmar que a conversão é fruto dos “joelhos no chão”, é fruto de muita oração fervorosa acompanhada de jejum, de penitências, de esmolas, de confissões bem feitas, de santas Missas e Comunhões fervorosas, tudo feito para alcançar as graças necessárias para a sua conversão. E preciso pedir, suplicar, implorar, clamar a Deus para que ele o toque e o transforme. E evidente que Deus precisa da sua melhor cooperação. Mas até mesmo na sua colaboração ele vem em sua ajuda.




OS REMÉDIOS DA CONFISSÃO E DA COMUNHÃO
Contra as consequências do pecado original, o melhor remédio é exatamente a Confissão e a santa Comunhão. O melhor remédio é o encontro com Jesus salvador, na Confissão e na Comunhão.
Se você redescobrir a Confissão corno sendo um encontro pessoal, muito pessoal, com Jesus Cristo, nela encontrará grandes graças de conversão. Quando for à confissão, se você não pensar, em primeiro lugar, no “encontro com o padre”, mas sim “no encontro pessoal que quer fazer com Jesus” na celebração do sacramento, a sua Confissão sacramental será a melhor força para conseguir eliminar as garras,do pecado das origens de dentro de você. O orgulho, o egoísmo, a vaidade, a inveja, a preguiça, a sensualidade e todos os outros vícios e males, encontram remédio abundante e poderoso no sacramento da Confissão. Exatamente porque nela você se encontra com Jesus salvador, que aliás tem todo poder de converter o seu coração. Melhor ainda quando a Confissão for complementada por Comunhões muito bem feitas, até mesmo realizadas de propósito para pedir a graça da conversão.
Você compreendeu muito bem que a santa Comunhão é “um encontro pessoal com Jesus ressuscitado, redentor e salvador’ Portanto, você pode recorrer frequentemente a seus encontros com Jesus na busca das graças divinas para uma conversão mais profunda, bem como para que aconteça a solução de algum problema, ou a cura de alguma área que ainda está dominada pelo pecado.
No encontro com Jesus na Comunhão você poderia dizer: “Jesus, eu estou te procurando neste encontro profundo contigo na santa Comunhão, porque eu estou precisando muito que toques no meu orgulho, que o arranques de dentro de mim, porque ele está criando problemas sérios dentro de minha casa. Senhor, eu preciso que me toques, que me cures, que elimines o meu orgulho, que arranques esta raiz tão. negativa que me leva a cometer tantos erros e pecados dentro de minha família”.
Saiba com certeza que comunhões feitas desta forma trazem a salvação de Jesus para eliminar suas más inclinações, bem como as raízes de muitos pecados.

A CURA DAS FERIDAS DA HISTÓRIA PESSOAL
Para conseguir uma conversão progressiva você precisa também curar as feridas e resolver os problemas que aconteceram em sua história pessoal. Para conseguir a cura e a solução desses problemas você pode e deveria usar sempre a santa Confissão, bem como a santa Comunhão, da forma como expliquei acima. Exatamente por serem encontros pessoais profundos com Jesus ressuscitado, redentor e salvador, elas podem ser o grande remédio para curar toda a sua história.Em outras palavras, nesses encontros com Jesus, ele pode curar de verdade seus sofrimentos.
Um grande remédio para curar muitos problemas de sua história ligados ao desamor sofrido é o “perdão ensinado por Jesus”. O perdão dado e pedido, repetido setenta vezes sete, é uma terapia maravilhosa, rápida e profunda para curar todas as feridas do desamor sofrido. Procure aprender a curar-se pelo perdão. Se quiser procure o livro Oração de Amorização: a Cura do Coração; leia-o e aprenda nele a curar-se de todos os desamores sofridos. Será uma bênção muito grande para sua vida.
Como há muitos ministros da Eucaristia que encontraram na espiritualidade da Renovação Carismática urna grande riqueza espiritual, tomo a liberdade de dizer que, por meio dela, o Espírito Santo nos trouxe maravilhosos canais de graças para a cura dos problemas ocorridos em nossa vida. Estes canais se chamam: “Oração de libertação, oração de cura interior, oração de cura emocional e. oração de cura espiritual”. Estas formas de oração são grandes canais de redenção. Através delas, a salvação de Jesus chega copiosamente ao coração das pessoas.
Penso que você deveria procurar aprender a fazer essas orações de autocura. Aprender a orar por si mesmo, a fim de ser curado pelo poder de Jesus, das feridas do seu passado. Se as aprender, na sua oração pessoal diária você pode fazer um trabalho no profundo cio seu ser. Nesse trabalho feito com essas orações irá curando a sua história dolorosa, os sofrimentos que você possa ter tido com o pai. com a mãe, com os irmãos, com os cunhados e com outras pessoas. Pode curar os sofrimentos que você possa ter tido na adolescência, na juventude, na vida adulta, no matrimônio etc. Por meio da oração de cura interior, você poderá curar muitos sofrimentos que estão impedindo o seu coração de se voltar muito mais para o amor de Deus e para o amor de seus irmãos.

SUPERAR AS INFLUENCIAS DO MUNDO
E em relação à terceira barreira, que é o mundão no qual vive, você precisa estar atento para não se deixar enganar. Jesus disse:“Vigiai e orai para não cairdes em tentação”. Ser vigilante. Não se deixar envolver. Saber dizer não.
Para superar e vencer a maldade defenda, propagada e glorificada pelo mundão, nada melhor do que buscar auxílio na Confissão, na Comunhão, na oração e na Palavra de Deus. Jesus declarou: “Tende coragem! Eu venci o mundo!” Você será vencedor se se mantiver muito unido a Jesus vivo, pela Confissão, santa Missa e Comunhão. Por essa união com Jesus vencedor, você também vencerá.
Pela leitura assídua das Sagradas Escrituras, e principalmente do Novo Testamento, você manterá “a mentalidade de Jesus”, a hierarquia de valores do Senhor, a visão cristã de sua vida. Com isso não se deixará enganar ou trapacear pelas mentiras do mundo.
O estudo do Catecismo da Igreja Católica será outra fonte de luzes para que seu coração não se deixe iludir pelas trevas.

JESUS CHAMA À CONVERSÃO
O Senhor Jesus o chama à conversão. Ele quer que você seja mais convertido, mais voltado de todo o coração para ele, para o Pai, para o Espírito Santo, bem como para o amor aos seus irmãos. Ele chama, a fim de que você, corno ministro dele, possa ser mais santo, como ele é santo. Porque você é ministro de Jesus, que é santo, deve procurar a santidade. Aliás, seria uma contradição, seria até um contratestemunho se algum ministro da Eucaristia fosse conhecido particularmente como um pecador ou, pior ainda, como pecador público. Seria uma triste contradição. O ministro da Eucaristia lida diretamente com Jesus santíssimo e trabalha para fazer a salvação de Jesus acontecer na vida das pessoas, a fim de que sejam santas. Por isso, ele mesmo deve buscar a santidade, deve viver em santidade.
O Senhor chama. Ele chama à conversão. Por isso você é convidado a olhar o que ainda não está bem em sua vida. A olhar o que precisa ser mudado para melhor. Ou então aquilo que ainda precisa ser conquistado de bem para sua vida. Poderia se perguntar: “como marido, ou como esposa, o que eu precisaria converter para melhor? Como pai, ou mãe, o que precisaria converter em relação aos meus filhos? Como profissional, no meu trabalho, o que fazer para que eu possa ser testemunho, para que possa “ser luz” naquelas trevas, para que possa “ser sal” para salgar aquele ambiente insípido? Em que poderia melhorar para ser um testemunho de fidelidade aos meus compromissos?
Em relação ao seu ministério Eucarístico: o que você precisaria mudar para melhor? Em que precisaria converter-se mais profundamente? Será que você ama de fato os outros ministros da Eucaristia da sua comunidade? Você os aceita como são? Colabora com eles? Procura realmente viver em comunhão de amor com eles, a fim de que haja testemunho de fraternidade, já que ministram o sacramento da caridade, que é a Eucaristia, que é Jesus eucarístico?
Pode ser também que, além dessas conversões para melhor, haja ainda a necessidade de tira! pecados de sua vida. Na verdade, por ser ministro de Jesus eucarístico, o pecado já deveria “estar riscado” de sua vida. Por ser ministro de Jesus o pecado já deveria ter sido eliminado. Por quê? Porque pecar significa ‘ofender o Senhor”. Porque pecar significar “magoar, entristecer a Jesus”. Se você entende. o que é o pecado, vai perceber que ele não cabe na vida de um ministro. Vai perceber que é uma contradição ser ministro de Jesus e ofendê-lo pelo pecado.

O SENTIDO DO PECADO
Bem. Aqui há mais uma realidade que precisa ser reestudada: “o sentido do pecado”. Ou seja, a realidade, a verdade do pecado. Infelizmente passou muito para a cabeça e para a con1;ciência do católico que o pecado é “apenas uma coisa errada que se faz”. O católico, de forma muito geral. não percebe mais o pecado como urna “ofensa a Deus, “como uma ofensa ao Deus justo e santo” corno bem o definiu o nosso Papa.
Se você parar para aprofundar o sentido 1o pecado, irá redescobrir e perceber que “todo pecado ofende, magoa, entristece, decepciona o coração do nosso Deus, Uno e Trino”. Se você aprofundar mais irá perceber, até, que todo pecado que se comete contra os irmãos, ou contra si mesmo, “respinga” em Deus. Atinge a Deus.
Para exemplificar. Alguém poderia dizer: “Bem. É verdade que eu não sou bom para com minha esposa, que eu a maltrato. Mas eu não estou blasfemando contra Deus! Não estou injuriando a Deus! Por que eu estou pecando contra Deus?” Ministro, qual a resposta que você daria? Reflita comigo. Acontece que essa esposa é filha queridíssima de Deus Pai. E qual é o pai que não sofre ao ver uma filha maltratada, traída, ofendida? Ora, também o Pai celeste não gosta! E é por isso que ele fica ofendido. Mais ajuda. Acontece que essa esposa maltratada é membro, é braço direito de Jesus. Jesus a ama com amor eterno. Ele a resgatou com seu sangue. E por isso que Jesus fica triste e magoado ao vê-la ofendida por seu marido. Mais ainda. Ela é templo vivo do Espírito Santo. É evidente que ele não pode ficar indiferente ao ver o “seu templo vivo” profanado pela maldade daquele marido. Entendeu a comparação?
Chamo sua atenção para outra realidade. Procure entendê-la. Basta parar para refletir e você irá descobrir que “todo pecado que se comete contra os irmãos” respinga, ofende, magoa “duplamente” o Pai, Jesus e o Espírito Santo. Primeiro, porque pelo pecado se ofende a alguém a quem Deus muito ama. Por isso Deus fica ofendido. Segundo, porque o ofensor, aquele que ofende, também é filho de Deus. Por isso ele fica magoado por ver que seu filho agiu mal e ofendeu ao próprio irmão.
Prezado ministro, será que muitas vezes, ao ver o comportamento de alguns dos seus ministros, Jesus não tenha coçado a cabeça..., passado a mão na barba..., franzido a testa... e tenha dito: “É, eu não imaginei que esta minha ministra fosse capaz de falar as coisas que agora está falando!” Ou: “Eu não poderia imaginar que o meu ministro pudesse fazer aquilo que está fazendo!” Você entendeu? Entendeu o sentido do pecado? Percebeu como todo pecado ofende os corações de Jesus, do Pai e do Espírito Santo?
É preciso recuperar o sentido do pecado. E preciso estar consciente de que todo pecado “causa urna decepção” ao Senhor. Que todo pecado que se comete contra alguém, ou contra si mesmo, ou contra o próprio Deus, sempre, de alguma forma, decepciona o Senhor, o entristece e o desilude. Ou corno dizemos: “Magoa o coração de Deus”.
É preciso que você readquira o sentido do pecado “como sendo uma ofensa a Deus” se quiser deixar de magoar ao seu Deus. Quando essa verdade cair bem no fundo do seu coração, então você passará a “ter horror ao pecado”. Então receberá do Espírito Santo a graça de sentir sempre mais horror a todo pecado. HoITo1 porque o pecado ofende o coração de Deus. Porque o pecado ofende, magoa, entristece o Pai, Jesus ressuscitado e o Espírito Santo. Porque o pecado ofende a quem tanto o ama. Esse “horror ao pecado” porque ofende a Deus chama-se “Santo Temor de Deus”. Santo Temor de Deus no é “medo de Deus”, mas um “horror, uru medo de perder a amizade de Deus”, por causa da ofensa do pecado. E por isso que muitos santos disseram: “Antes morrer do que pecar”. “Prefiro morrer, mas não perder a amizade de Deus.” E muitos morreram mártires, preferido a morte à perda do amor de Deus.
Uma comparação: Um marido que ama muito, muito, sua esposa, tem horror de ofendê-la. E, se por urna infelicidade a ofende, ele fica muito triste. Exatamente por ter ofendido a alguém a quem tanto ama. Assim também deve ser em relação a Deus. Se nós, de fato, sentimos que somos amados por Deus, e dizemos que o amamos, deveríamos ficar muito tristes quando percebêssemos que caímos em pecado e ofendemos àquele que tanto nos ama.

O PECADO PODE OCORRER
Eu dizia que, para o ministro de Jesus eucarístico, o pecado deveria estar banido, riscado de sua vida. Mas infelizmente ele pode acontecer. Sim, pode acontecer, como um acidente. Como um acidente de trânsito. Nós nunca viajamos para nos acidentar. Mas o acidente pode acontecer. Deveríamos caminhar cada dia na vida cristã só fazendo o bem, sem nunca pecar. Mas pode acontecer um escorregão, pode ocorrer um tropeço. Pode acontecer, sim. Mas não deveria ser o normal. O pecado não deveria ser “coisa de todo dia”.
Se infelizmente o pecado acontece, você sabe que pode contar com a misericórdia de Deus, a qual é muito maior que o seu pecado. Quando o Pai celeste percebe que um filho cai, mas humildemente reconhece o pecado, sinceramente pede perdão e promete fazer esforço para não mais cair, ele está pronto para perdoar. Aliás, o Pai está sempre desejoso e pronto para perdoar o filho, pois ele o ama. O perdão do Pai chega ao filho por meio de Jesus salvador que perdoa pela ação do Espírito Santo.
Caro ministro. A consciência de que o pecado decepciona e magoa o Pai, o Filho e o Espírito Santo deve levar a um profundo desejo de conversão, de conversão cada vez maior, de procurar eliminar de sua vida tudo aquilo que seja raiz de pecado, causas do pecado, bem como o próprio pecado em si mesmo.

A GRAÇA DO ARREPENDIMENTO
O arrependimento dos pecados, sem dúvida, é uma grande graça divina. Meu irmão, entenda. Você só sentirá arrependimento do pecado quando reconhecer que ele é uma ofensa a Deus. Enquanto o pecado for considerado apenas como uma “coisa citada que você está fazendo”, não sentirá arrependimento. E se não houver arrependimento, também não haverá o perdão de Deus e não haverá rompimento com o pecado. Sentir arrependimento do pecado é condição necessária para que você possa receber o perdão divino, bem como a graça de sair do pecado.
Quando falo ou escrevo sobre o arrependimento, o Espírito Santo traz ao meu coração uma experiência que tive há anos. Eu atendia confissões em uma igreja. Era Sexta-feira Santa. Em dado momento veio ao confessionário um senhor de uns 30 anos. Ele fez uma confissão muito sincera. Quando acabou de confessar os pecados caiu em um pranto, em um choro tão copioso que já não conseguia controlar os soluços. Chegou a colocar o lenço na boca para que o seu choro não fosse ouvido fora do confessionário. Confesso que aquilo me tocou. De dentro de mim veio de imediato a pergunta: “E eu, que sou ministro de Deus, que sou padre, que tipo de arrependimento sinto dos meus pecados?”
Deus havia reservado para mim, naquele dia, outra experiência semelhante. No mesmo dia, na hora do almoço, fui chamado ao telefone. Uma voz masculina dizia-me: “Padre, eu quero me confessai; mas não no confessionário. Você me atende ali na casa paroquial?” Eu disse: Venha! Venha daqui a pouco que eu vou atendê-lo. Ele veio. Entramos na sala, conversamos um pouquinho, rezamos por um breve momento, preparamos a confissão, e ele começou a confessar os seus pecados. Quando estava pela metade da acusação, caiu em um choro, em um choro tão sentido que o seu corpo até balançava com a força dos soluços. Ele não conseguia segurar o choro.
Confesso que essas duas experiências de arrependimento me tocaram profundamente. Jamais as esqueci. Confesso também que, a partir daquele dia, eu sempre sinto que Deus quer que eu fale sobre “a graça do arrependimento”.
O arrependimento dos pecados, o arrependimento de ter magoado a Deus é uma grande bênção, uma graça divina. Ao mesmo tempo ele é uma força muito grande para a conversão. Quem se arrepende de ter ofendido a alguém que ama, não apenas sente necessidade de pedir perdão, mas deseja vivamente nunca mais ofender o amado.
Arrepender-se: eis uma grande graça! Não estou dizendo que a gente precisa chegar a chorar. Ou a forçar-se para chorar. No entanto, se um dia você tiver a graça de chegar a arrepender-se tanto por ter magoado ao seu Deus tão maravilhoso, a ponto de chegar a chorar, saiba que essa experiência não se apagará jamais da sua vida, do seu coração. Nunca mais!
Peça ao Espírito Santo a graça do arrependimento. Junto com essa graça, peça uma grande sensibilidade ao amor de Deus para que você sinta horror à possibilidade de magoá-lo. Peça a grande graça de, pelo menos, nunca ofendê-lo por pecados graves, mortais, conscientes, consentidos e praticados voluntariamente.

SENTIR-SE PECADOR, MAS TER HORROR AO PECADO
Aliás, o Espírito Santo quer lhe dar outra graça bendita. A graça de “sentir-se pecador”. Compreenda bem essa realidade. Uma coisa é “ser pecador”, cometer pecados. Outra realidade bem diferente é “sentir-se pecador”. Sentir-se pecador é reconhecer que dentro de você existe a fraqueza, existe a tendência ao pecado, existem as forças do orgulho, da vaidade, da gula, da sensualidade, do erotismo desordenado etc. Mas ao mesmo tempo em que sente e reconhece essa realidade, tem horror ao pecado, luta para não cair em pecado de orgulho, de inveja, de erotismo etc.
Há pessoas que cometem pecados gravíssimos, mas não reconhecem o mal que fazem. Não se sentem pecadores. Estes “não se sentem, mas de fato são pecadores”. Há outros que têm horror ao pecado, vivem em grande amor de Deus e dos irmãos, mas reconhecem que em seus corações existem as forças que induzem ao pecado.

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